TETO DE VIDRO
Né à souffrir:
Ele era do contra. Quando alguém lhe oferecia ajuda, seja lá pelo motivo que fosse, ele respondia: “Não, obrigado. O sofrimento dignifica o ser humano”. Um dia desses, ofereci-lhe carona, depois de um dia exaustivo de trabalho, e ele respondeu: “Não, obrigado. Prefiro ir a pé… O sofrimento dignifica o ser humano”. Quando soubemos que ele estava passando por problemas financeiros, meus colegas de repartição e eu, fizemos uma ‘vaquinha’, e juntamos uma boa soma em dinheiro para ajudá-lo. Ao contarmos para ele que aquele montante seria o fim de todos os seus problemas, ele respondeu: “Não quero! Mas obrigado… O sofrimento dignifica o ser humano”. Assim foi quando fomos ao velório da mãe dele, e ao expulsar-nos de lá, ele disse: “Não posso aceitar os pêsames de vocês. Deixem-me sozinho… O sofrimento dignifica o ser humano”. Ontem, ele caiu do oitavo andar do prédio onde morava, porque foi limpar a janela pelo lado de fora, sem nenhuma proteção. Quando os paramédicos chegaram, viram que ele estava com uma das mãos fechada. Quando abriram-na, lá estava um papelucho, e nele estava escrito: “Não me socorram… O sofrimento dignifica o ser humano”.
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