FEEL SO CLOSE
If we do our part, we will always be happy:
Era assim toda noite. Ela saía de casa com uma cesta de piquenique à mão, oferecendo ao mundo amor, chocolate quente, biscoito recheado, chá de camomila, bala de hortelã, doce de abóbora, pão, arroz, feijão, carne e alfabetização. Era muito rica. Uma dama da alta sociedade. Era vista por todos como o exemplo da bondade humana. Ajudava asilos, orfanatos, hospitais, presídios, instituições educacionais, comunidades pobres e moradores de rua. Quando ia para a TV pedir algum donativo, não fazia-o por exposição midiática. Pois sabia que aquilo que se faz de bom ao outro, não deve ser matéria publicitária. Do contrário, aquele que usa o bem para se promover, já recebeu a sua recompensa. Não era dada aos flashes, muito menos aos holofotes. Entretanto, sabia que para ajudar o máximo de pessoas possível, podia utilizar o prestígio alcançado após anos de inserção na vida pública do país, fazendo do seu lado mecenas, o lenitivo para os menos favorecidos: economicamente falando, é claro. Pois todos são ricos do amor de Deus.
Não é porque o sujeito anda esfarrapado, come lixo, mora em um lugar horrível ou vive perambulando pela rua sem ter para onde ir, que não seja digno de todo respeito. Todo mundo passa por poucas e boas na vida. Às vezes o sofrimento de quem tem muito dinheiro, mas vive sem amor, é muito pior do que quem não tem o que comer. A fome do corpo mata aos poucos. Todo mundo sabe disso. Porém, quando o apetite é da alma, e não há do que se saciar, o indivíduo enlouquece. Por isso se vê tanta gente endinheirada suicidando-se. Ou pior: pegando uma arma e matando quem vê pela frente. Isso acontece principalmente nos países ricos; ditos de primeiro mundo. Um dia a pessoa acorda e percebe que tem tudo que o dinheiro pode comprar. Todavia descobre que não tem o básico: amor por si mesma. E como quem não se ama, é incapaz de enxergar a vida no olho do seu irmão, matar ou matar-se dá no mesmo. Em qualquer época da história da humanidade, o básico será sempre aquilo que se pode carregar junto à alma. Como bem sabemos, fortuna material fica aqui quando a gente morre. Quem vai usufruir dos tesouros terrenos, serão os nossos herdeiros. E estes, em muitos casos, são um grupo de ‘sanguessugas’, que passaram a vida rezando pelo dia da nossa morte. Parece cruel pensar assim. Mas é o que se fita por aí. Pessoas que mal veem fechar a tampa do caixão do outro, e saem gastando desbragadamente. Pessoas vivem e matam por dinheiro. Pessoas passam com o trator na cabeça do quejando por qualquer preço. Pessoas humilham o seu semelhante quando este se coloca entre elas e um grama de ouro. Pessoas são assim: surpreendem até a si mesmas, quando o assunto é o que se leva da conta bancária, para dentro do bolso.
Portanto, esta senhora da alta sociedade percebeu desde cedo, que se construísse a sua vida usando o dinheiro como base do seu destino, certamente iria ruir como um castelo de areia. Ao invés disso fez de si, o porta-voz da caridade. E se o ônus da benevolência é expor-se diante do mundo, pedindo bençãos para terceiros, fazia-o com o sorriso no rosto. Por conta disso ajudara muita gente a sair da miséria. Extremamente humilde, não aceitava nenhum elogio. Dizia que o mérito era unicamente de Deus. Sabia que o ser humano nasce para servir. E quando não se coloca na condição de operário da vida, acaba caindo ao chão, como uma fruta podre do alto de uma árvore. Sensata do jeito que era, não queria esse fim para si. Por isso, quando saía à rua com sua cesta de piquenique à mão, fazia-o sozinha. O objetivo era visitar os amigos que moravam no entorno de praças, pontes, marquises e viadutos, e fazer do bem-estar destes, um presente para a alma. Deste modo, levava-lhes aquela refeição, como um regalo da vida.
Um dia lera que o Cristo dissera: “Que vossa mão esquerda não saiba o que faz vossa mão direita”. A frase grudara em seu espírito como um alerta. Era o convite para a humildade, o silêncio, a meditação. Passou a viver assim: sem fazer alarde. Era tão feliz em seus passeios noturnos, que quando voltava para casa, ela que saíra com a cesta de piquenique abarrotada de bons sentimentos, retornava abastecida de afeto. Os seus amigos, moradores de rua, ensinaram-lhe que não é porque alguém parece estar no fundo do poço, em um labirinto aparentemente sem saída, que não mereça todo o amor que houver nessa vida.
Era noite de natal. E como fazia nos 365 dias do ano, saiu de casa com uma cesta de piquenique à mão, oferecendo ao mundo amor, chocolate quente, biscoito recheado, chá de camomila, bala de hortelã, doce de abóbora, pão, arroz, feijão, carne e alfabetização.
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