DOIS BARCOS



Dire au revoir à l'homme dans le miroir:

Ele caminhava no deserto de si mesmo, na esperança de encontrar ali, um oásis. Vivera e revivera o passado, e revirara tanto o baú das desilusões perdidas, que encontrara a dor da solidão; que só aqueles que têm sentimentos sãos, são capazes de identificar. Era um homem que não guardava em si o que tinha de bom. Doava-se todo: em postas, em porções, em peças inteiras. Não trancava-se em cofres emocionais. Parecia, e era, uma porta aberta. Sem chaves. Senhas. Cadeados. Ele era a ausência em meio a comparecência. Era a seca e o deleite. Mas havia algo nesse homem que encantava: ele era oceano em copo d’água. Um tanto ermo, eu sei. Entretanto, havia nele lugares habitados. Nestes, cabiam aldeias inteiras. Uma povoação. Uma localidade. Um lugarejo. Havia naquele homem uma vontade de adaptar-se, admitir-se, convir. Era a causa e a consequência. O ser e o não-ser. Sei disso porque fiz parte desse homem. Falo dele porque viveu o que vivi. Estávamos nós ali: ele e eu, eu e ele. Dois em um, como notebook que também é tablet. Sendo o cérebro, o músculo, e conjuntamente, o coração. No entanto esse homem morreu. O homem que era eu.

O velho homem que eu era, como o som d’um crescendo, desencarnou. 


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Comentários

  1. Barquinn, toda vez que leio um texto seu, fico encantada. Você é um escritor bárbaro! Desejo-lhe muito sucesso na literatura e na vida. Você é o tipo de escritor que deve-se ler diariamente. Amo seu trabalho, meu lindo! Sucesso!

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