BIRTHDAY


Joyeux anniversaire:

Ela era o feminino de ator. Uma mulher que labutara tanto tempo em seu ofício, que não enxergava mais quem era o indivíduo e quem era o grupo. Nela habitava uma multidão. Ela era o coletivo de gente. A sua casa era o palco. Como não sabia fazer outra coisa, ficava ali esperando o público chegar. Um dia vinham aplausos. Noutros, vaias e ovos podres. Quando era ovacionada, alegrava-se. Caso contrário, eram ócios e ofícios: e o teatro vinha abaixo. Ela era boa no que fazia. Conseguia arrancar gargalhadas e lágrimas da plateia. Mas o tempo passou e ela foi esquecida. Depois da fama veio o ostracismo. E daí para o limbo foi um pulo. Triste, ainda fez alguns trabalhos pela rebordo do mundo. Depois de quase agarrar o sucesso, virara off-Broadway. De que lhe serviu cartapácios de Bertold Brechet? O que fizera dela Eugène Ionesco? Aonde foste parar, Constantin Stanislávski? O mesmo poderia ser indagado a Henrik Ibsen, Jean Genet, Jersy Grotowski, Luigi Pirandelo, Jean-Baptiste Poquelin (ou se preferir, Molière), Samuel Beckett, William Shakesperare e a tantos outros. De que lhe adiantara brilhar em “Os Malefícios do Tabaco”, “A Profissão da Senhora Warren”, “A Cantora Careca”, “A Casa de Bernarda Alba”, “Noites Brancas”, “O Despertar da Primavera”, “Miss Cabo de Vassoura”, “Casa de Bonecas”, “O Rato no Muro”, “Escola de Mulheres”, “A Mandrágora”, “As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant” ou em “Antônio e Cleópatra”? Uma hora estava no topo do mundo como protagonista. Noutra, era antagonista de si mesma. Sensível que só, não aguentou viver no esquecimento. Como todo arlequim sabe a hora de tirar a fantasia, toda atriz sabe quando matar a personagem. Por isso, tal como era esperado, morreu de improviso: como nascem e crescem todas as coisas.

Hoje ela faria dois anos de morta, se morto fizesse aniversário.




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Comentários

  1. Antônio Pedro de Oliveira Martins22 de junho de 2014 às 15:40

    Betto, é incrível como você escreve bem. No seu blog há textos fantásticos. Andei zapeando por aí e vi que nesses quatro anos, seu blog tem preciosidades dignas de louvor. Parabéns por ter este acervo de boas histórias. Você é um GRANDE escritor. Sucesso, cara. Você merece!

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