DON’T WAIT TOO LONG
Ao encontro de “O Elefante”, de Wassily Kandinsky:
Ela
não sabia se gostava mais da “Mona Lisa” ou de Leonardo da Vinci. Às vezes ficava
parada defronte “A última Ceia” pensando nos dois. E, por incrível que pareça, chegava a mesma conclusão: amava-os. O mesmo se dava com Van Gogh e sua
Obra. Ela não sabia se gostava mais de “Campo de trigo com corvos” ou do
pintor. “Afinal”, — dizia, — “como amar um homem que decepou a própria orelha e
suicidou-se com um tiro no peito? Mas, apesar de Van Gogh ser Van Gogh, como
não amá-lo?” E lá ia ela chegando àquela conclusão a que sempre chegava:
amava-o. Com Michelandelo Buonarroti não era diferente. Não sabia se amava mais
as nove pinturas do teto da Capela Sistina, no Vaticano, que compõem três
monumentos (“A criação da Terra por Deus”, “A criação da humanidade e sua
queda” e “A humanidade”), — ou se
amava-o porque amava-o. E novamente à velha conclusão chegava: amava-o ardentemente. Picasso, à sua cabeça, dava uma confusão danada. Para ela, o
pintor era nó em pingo d’água. Por isso não sabia se amava mais a Fase Azul, a
Fase Rosa, a Fase Primitiva, o Cubismo Analítico ou o Cubismo Sintético. O que
sabia era que amava a “Guernica”. E se a pintura era do pintor, por ele tinha amor. Movida por sentimento equipolente, arrepiava-se inteira com o surrealismo
de Dali. Era só fechar os olhos, e lá vinha a dúvida: Não sabia se
gostava mais de “A persistência da memória” ou se Salvador Dali é que era a sua
obra-prima. E qual era a conclusão? Amava-os então! Em seguida, debruçada à frente de “Mulheres no jardim”, quanto mais olhava para a tela, mais em Claude Monet
pensava. Era louca pelo impressionista. “Por Claude”, — dizia, — “sou
capaz de morrer”. Mas, como bem sabia, Diego Velázquez não deixaria. Ela, pois,
que amava “O vendedor de água em Sevilha”, amava de igual modo o pintor que
valorizava a dignidade humana. Ao deparar-se com a arte sacra de
Caravaggio, caiu em prantos ao ver “A decaptação de São João Batista”. Era
mulher de sentimento à flor da pele. E a essa altura da vida, o realismo era
por si só, seu peso e sua medida. Assim, deixando o amor falar mais alto,
apaixonou-se por Henri Matisse e suas cores. Amava-o tanto que “A dança”, Nu
azul IV” e “Banhistas na margem de um rio”, passaram a ser sua razão de
viver. E quando achou que não seria capaz de amar a mais ninguém nessa vida, viu pousar diante
de seus olhos, o abstracionismo de Kandinsky. Aquele instante, o instante em
que conhecera Kandinsky e sua Obra, foi para ela um divisor de águas. Diante de sua retina, estava retratada a emoção que só a música e as belas-artes são
capazes de nos dar. “Quando não há referência descritiva aparente”, — pensou, — “é aí que a palavra em mim se manifesta”. Apaixonada pelo mestre do
abstracionismo, demente e nua como um ser ausente, deitou-se diante de “Pair to
horse”, escorreu até “Orange”, e já que estava ali ao rés-do-chão, apoiou-se em
“In blue”, deu um alígero suspiro, e feneceu: nos braços da Arte.
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