PARAÍBA MASCULINA


Coerência & coesão:

Ela levantou-se, fez as suas necessidades fisiológicas,  lavou o rosto, escovou os dentes, acordou os filhos, conversou um pouco com o marido; enquanto este, arrumava-se para sair para trabalhar. Depois fez café, esquentou o pão, colocou um bolo de macaxeira na mesa. Daí foi só despachar as crianças para a escola, despedir-se do marido, dar-lhe um beijo de cinema, rir de alguma coisa que ele disse antes de sair, voltar para cama, correr os olhos em "O segredo da rua 18" e dormir. Dormiu umas duas horas. Sono pesado. Depois fez o almoço: cortou, picou, lavou, enxaguou, secou, guardou; sujou de novo, lavou novamente, enxaguou, secou, guardou.

Para o almoço: berinjela recheada com carne moída, fatias de bacon, queijo coalho e parmesão ralado. Tomate. Alface. Cenoura cozida. Aipo. Acelga, Azeite. Orégano. Uma vez pronta a salada, cozinhou duas batatas, uma beterraba; cortou em cubinhos e deixou descansando em uma bacia de inox. O escorredor de pratos servia-lhe de faqueiro. Ali colocara os talheres e tudo o mais que usara. As panelas ficaram solitárias em cima do fogão. Embora estivessem cheias até a tampa, algum desavisado que as olhasse de soslaio, veria apenas três panelas com água em ebulição, com meia dúzia de coisas dentro: cada uma. Mas era mais do que isso: para ela aquelas panelas eram o universo equidistante. 

O dia passou enquanto arrumava, espanava, varria a casa. Até o cachorro ajudara latindo pouco. Quando o marido e os filhos chegaram da rua, ela já estava de banho tomado, unhas feitas, cabelos tingidos, vestido de festa. Depois que todos banharam-se: jantar, TV, bate-papo, boa noite e cama.

Assim fora aquele dia: como todos os outros.



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