ALIMENTE
Anjo Negro:
Hoje meu filho chegou
aos prantos em casa dizendo que foi vítima de racismo. Uma senhora branca, de
meia idade, aparentando ser de classe média, perguntou o que um “macaco” estava
fazendo fora da jaula. Isso ocorreu no ônibus, quando ele voltava da escola.
Ele contou-me que ela vociferava, dizendo que lugar de “chipanzé” é no
zoológico: “já que proibiram animais no circo.” O que desencadeou
tamanha violência, foi o fato de o menino ter se sentado no lugar reservado à
deficientes físicos, idosos e gestantes. E ela, vendo-o ali refestelado, achou-se
no direito de humilhá-lo, usando contra ele a cor da própria pele. Aquilo foi
mais que um insulto contra a sua raça. Foi um desrespeito à humanidade inteira.
Por que um garoto que não faz mal a ninguém merece ouvir tamanho despautério?
Será que ele é culpado por ser negro? Cometeu algum crime por ter nascido com a
pele preta? Matou? Roubou? Desrespeitou alguém? Existe lei contra
afrodescendente? E os ancestrais dele, que deram um duro danado para esse país
ser o que é, não merecem um pouco de respeito após trezentos e oitenta anos de
escravidão? Será que o ar que esta senhora respira não é o mesmo que o dele? E
quando ambos morrerem, ela vai para o céu e ele não? Perguntas não me faltam
numa hora dessas. Mas nenhuma resposta é capaz de aplacar a minha indignação.
Daqui
a pouco vou à polícia prestar queixa contra essa abominação humana. Porque se
ficarmos calados, amanhã ela pega uma arma e mata alguém: que pode ser o meu
filho ou qualquer outro. Enquanto a sociedade fingir que coisas assim não
acontecem, seremos obrigados a ensinar aos nossos filhos a se defenderem contra
a violência. Violência esta que dói mais que um soco, que um tapa na cara, que
uma surra de vara, que um espancamento, que um linchamento, que apanhar de
chinelo, cinto ou cabo de vassoura. Porque atinge diretamente a alma. E esta
não sabemos como proteger. Meu filho tem dez anos. Ainda é cedo para entender
como funciona o mundo dos adultos. Eu mesmo, do alto dos meus muitos anos
vividos não entendo, imagina ele, que é uma criança. Mas ainda nos resta uma
esperança. Se depender de mim, essa ‘Hitler de saias’ não humilha mais ninguém.
Que volte para os anos sessenta e se junte à Ku Klux klan ou vá para o inferno:
de onde, a propósito, não deveria ter saído.
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