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L'immense
vie d'un homme:
Às vezes tudo que se quer é a paz
de dias tranquilos, por mais que dias tranquilos sejam difíceis de alcançar. Por isso, se preciso fosse, preferia sair prejudicado de alguma situação; à prejudicar, mesmo que em pensamento, a quem quer que fosse. Assim era ele. Pensava mais no outro do que em si mesmo, o que dava-lhe uma
certa liberdade: a leveza da escolha. Por mais que escolher seja difícil (afinal
o ser perde quando ganha), por mais que existir seja pesadume em nossas costas; ele, que estava em busca de si mesmo, acreditava que sendo bom, de um
jeito ou de outro, a sorte lhe sorriria: ainda que fosse com a quina dos olhos.
Se perguntassem qual a sua cor predileta, ele responderia: “vermelho”. Se
indagassem porquê, ele diria: Porque
sim. Dentro da sua simplicidade, o que ele queria era sombra e água fresca, conquanto tivesse que passar a vida toda quebrando pedra. Como já dissemos,
ele era aquele que elegia. Não era o ser eleito porque sabia que não viera ao
mundo para estar no proscênio. Era mais um artista de bastidor, quase um
figurante com fala, um ator coadjuvante que dá a deixa da coxia para o protagonista
brilhar. Vermelho, sim. Vermelho de dor. Sofria sem dar um ai. Sofria sem dizer-se
sofredor. Era uma dor que não se sabe o nome. Uma dor sem sobrenome. Uma dor sem árvore genealógica. A dor de
viver.
Morrera velho. Dizem que passou
dos duzentos anos. Impossível? Talvez. Eu sei que ninguém vive tanto. Mas ele
viveu. “Morreu de velhice”, —
disseram. “Não é para menos”, —
pensei. Duzentos anos são duzentos anos.
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