LINDO CÉU


Le ciel est la demeure des enfants de Dieu:

Ele era uma ilha de felicidade cercada de amor por todos os lados. Uma pessoa comum, como essas tantas que esbarramos na rua todos os dias, que levam a vida honestamente. Era um homem de princípios fortemente forjados na ética. Havia nele uma urgência moral latente. Pelo simples fato de saber que estava aqui de passagem, afinal ninguém nasce para semente, ele buscava a si mesmo no olhar do outro. Queria ver-se refletido na menina dos olhos da humanidade, pois isto para ele tinha nome: pertencimento. Portanto não desperdiçava nada: olhar, sorriso, cordialidade, gratidão, humildade, simplicidade, serenidade, solidariedade. Era homem de trocas e escambos. Era homem fadado a marcar a sua passagem pela Terra com generosidade. Entendia que ninguém faz nada sozinho. Duas cabeças pensando, mãos unindo-se em prol do mesmo objetivo, e braços formando o laço de um abraço, para ele era o remédio eficaz contra todos os males: do corpo e da alma. Ele sabia que o pior que pode nos acontecer é termos o espírito doente. A medicina humana está muito avançada. Quase tudo se cura ou se remedia quando o assunto são os males do corpo. Agora, no tocante aos males da alma, um espírito doente é por si só um corpo em desequilíbrio. Um espírito doente é um fardo. A cura da alma leva tempo. A cura do corpo, nem tanto. Ao longo da vida na matéria podemos perecer por qualquer motivo. Mais dia, menos dia, cada um de nós seguirá o seu caminho rumo à Verdadeira Vida: a vida espiritual; de onde viemos e para onde voltaremos. Quando nascemos, a única certeza que temos, é que um dia morreremos. Afinal o indivíduo começa a morrer no momento em que nasce. Morte do corpo, que fique bem claro. Pois o espírito é eterno. Morrer é natural. Faz parte da vida. Mas quando o corpo biológico morre, e a alma; que é imortal, continua doente, o sujeito padece do impublicável. Há muito sofrimento no mundo para alguém partir para o além doente do mal de si mesmo. E isso ele não queria para si. Desejava uma mente sã em um corpo são. A mente em questão era a alma. O corpo a que ele se referia era o espírito: aquele que sobrevive a morte física. Pois segundo ele, quando somos saudáveis em espírito, a vida flui naturalmente. Então o corpo biológico reage com firmeza. O ser humano é um conjunto de fatores, que quando equilibrados, dão lugar a harmonia. E era esta harmonia que ele buscava. Inteligente como era, sabia que só é feliz quem vê o mundo com olhos espirituais. A vida na Terra é passageira. Não passa de um sopro de vida. Mas como bem sabemos, a vida não é só o que se manifesta diante dos nossos olhos. A vida é um contínuo. É um balé sem o último ato. Quando o corpo morre o espírito liberta-se do cárcere. 

Por isso, o nosso homem comum, aprendeu que não é normal acostumar-se com o anormal. Pois o maior legado que o homem pode deixar para a humanidade é a esperança. Coisas como miséria, fome, sucateamento do ser humano, mágoa, ódio, vingança, descaso, racismo, preconceito, intolerância, falta de saúde social, mentira, egoísmo, vaidade, inveja, materialismo, consumismo, vícios, violência, desamor; nada disso vem de Deus. São questões que suplantam o abominável. Portanto, ninguém pode se conformar quando vê o outro morrer de fome. Ninguém pode voltar ao conforto de sua casa, e ao aconchego dos seus; e dormir tranquilo, sabendo que o mundo está de cabeça para baixo. Um sujeito alienado é pior que mil pragas do Egito. Um sujeito indiferente é um perigo para a sociedade. Temos que aprender a conviver em harmonia com o diferente e dialogar com ele para que juntos encontremos o nosso ponto de igualdade. Porque quando nos aproximamos do outro, percebemos que ele é mais parecido conosco do que nós com nós mesmos. Ele falava coisas assim. Apoiado na pergunta que Inácio de Loyola fez a Francisco Xavier quando convidou-o a formar com um grupo de amigos uma companhia de apóstolos que mais tarde denominou-se a Companhia de Jesus, ele perguntava a si mesmo: “De que vale a um homem ganhar o mundo inteiro se perder sua alma?”.   

Ele viveu pouco tempo na Terra. Apenas vinte e oito anos. Morreu de causas naturais. Foi encontrado morto pelos Bons Espíritos que vieram buscá-lo para levá-lo ao Céu, deitado na simplicidade de uma esteira de vime, abraçado ao seu Anjo da Guarda. Viveu pouco, sim. Mas levou consigo um Espírito forte; inalienável, que perguntava-se todos os dias: “O que o homem poderia dar em troca de sua alma?”. Partiu com a certeza de que outras vidas no corpo biológico viriam. Pois levava em si a crença na reencarnação. Sabia que quando um homem morre, enquanto o corpo sucumbe, a alma se eleva. Por isso não há motivo para tristeza: quando um corpo morre na Terra, um espírito renasce no Céu. Para um homem de bem, quando a morte chega, não há mais dor nem sofrimento. O mesmo não se pode dizer do homem mau; que terá dias de choro e ranger de dentes. Afinal, como bem disse o Cristo: “A cada um segundo suas obras”. Partiu tranquilo, sim. Hoje habita um dos muitos cômodos da Casa de Deus: a Morada dos Anjos. E de vez em quando me visita em sonhos. Falando nisso, esteve comigo ainda a pouco. Ele se parece com um pássaro. 
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