SINCE I’VE MET YOU


Mademoiselle Edelweiss:

Ela tinha aquilo que se chama bom senso. Era doce, gentil, elegante, não fazia mal a ninguém. Era uma flor do campo. Além de não fazer o mal, fazia o bem: o que tornava-a encantadora. Era boa conselheira. Toda vez que alguém chegava com um queixume, dos mais comuns aos mais cabeludos, nos braços dela encontrava a solução. Para ela qualquer problema era visto com a precisão de um cirurgião. E ela tinha mesmo essa aura de médico. Era sem sombra de dúvida um clínico geral. Ia a fundo até encontrar a cura: fossem os males da alma, do corpo, da mente ou do coração. Eu mesmo já recorri várias vezes ao seu consultório médico. Deitava-me no divã, expunha o que em mim não funcionava direito, e ela com a paciência de uma monja, dava-me o diagnóstico: e ainda passava-me uma receita. O tratamento era simples, apesar de doloroso. Eu tinha que mudar. Mudar hábitos e costumes, mudar a frequência do pensamento, mudar e mudar. E é claro que não se muda da noite para o dia. Ou até muda mas dói. Crédulo, levei a sério todo tratamento que fiz com ela. Ela mandou-me caminhar, eu caminhei. Mandou tomar mais água (dois litros por dia), tomei. Mandou que eu sorrisse mais. Afável, passei a dar gargalhadas tão altas, que irritava o sujeito mais otimista. Dito e feito: nunca mais senti dor no peito. Ah, eu não contei. Então conto agora. Eu sentia uma dor no peito profunda. Era como se enfiassem um espeto de churrasco no meu coração. E isso dói. Dói muito. Junto com a dor vinha a falta de ar. Sentia-me sufocado por mil travesseiros. Aí eu chorava. Chorava de desespero. Chorava de dor. Não havia o que aliviasse, tamanha a minha dor. Mas quando contei-lhe o que se passava comigo, ela mandou que eu caminhasse duas horas por dia. Começasse devagar, lentamente, com passos de formiga. Eu obedeci. Foram semanas me arrastando pela rua como um morto-vivo. E era assim que eu me sentia. Quase morto. Quase vivo. Não demorou muito e eu já estava refeito. Nunca mais dor no peito! Foi o amor dela que me curou. Nunca mais senti dor.

Embora jamais tivesse estudado medicina, ela tinha aquela coisa feminina, meio mãe, meio divina, que enxerga dentro da alma da gente. Ela me via de dentro para fora, apesar de me enxergar de fora para dentro. Ela era boa comigo. Era boa com todo mundo. Era aquela que o amor chamaria de amor-perfeito. Ela era mesmo uma flor do campo. Tinha gosto de caliandra.     


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