AMOR, SUBLIME AMOR

Catarina, a bem-aventurada, era filha de Bonifácio, um abastado banqueiro que ficou rico ajudando os pobres. Desde a tenra infância, Kate, como era conhecida por todos, aprendera com seu pai, que ninguém é feliz de verdade, se não é capaz de dividir com o outro, o melhor de si mesmo. Ao contrário da irmã, Vicentina, mocetona fútil e egoísta, Kate doava os seus momentos de ócio aos pobres. Ao invés de passar horas no shopping comprando coisas mortas, preferia viver de forma intemporal, doando-se ao outro. Levava na alma açúcar e afeto. Levava no coração toda a bagagem que o espírito precisa para fazer o outro feliz: Amor. Quando praticava o bem, sentia-se tão abastecida, tão iluminada, tão cheia de graça, que tinha certeza que recebera muito mais que doara. Pois 'amor é sentimento que sacia' – dizia. 'Como é bom poder doar um sentimento!' – exclamava. Caridade é algo tão sublime, que quanto mais a gente ajuda, mais é ajudado. Quem fica sentado no sofá, contando dinheiro e reclamando da vida, não sabe o mal que faz. Quem não ajuda a ninguém só serve para poluir o planeta. Quem não é capaz de amar, não serve para nada. Por isso, fazendo o bem sem olhar a quem, Kate percebeu que nunca ficava doente. Enquanto a irmã vivia de cama, um dia com depressão, porque brigara com o namorado. No outro de mau humor, porque percebera que o bom sentimento não se vende. No terceiro com raiva, porque o verdadeiro amor não se compra. No quarto acordava com sono, porque viver e não sonhar, é o mesmo que não existir. E no quinto passava o dia com enxaqueca, pois leu em algum lugar, que a vida não presta. Donde se conclui, que para quem é infeliz, dinheiro não traz felicidade. Ao contrário da irmã, Catarina não era amarga como “A Magera Domada”. Mas doce como o quê.

Bonifácio era o mecenas que todo artista desejava ter. Todos que batiam à sua porta, eram tão bem recebidos, que saíam de lá sentindo-se reis. Quem tinha espírito artístico, recebia do Banco da Caridade o prêmio “Agnus Dei”, um incentivo cultural dado àqueles, que pelas mãos de Bonifácio, iriam brilhar. À sua porta chegava toda a casta de artistas, de populares a eruditos, de acadêmicos à naïf, ávidos pelos conselhos de Bonifácio, – O Bem Amado. Artistas estes, que iriam ter suas carreiras administradas por toda a vida, com a garantia de jamais faltarem investimentos financeiros, afetivos, espirituais e emocionais, para que cercados de todo o amor que houver nessa vida, pudessem criar obras tão belas, que serviriam para emoldurar o coração e a alma da gente. Para tal, assinavam um contrato de representação com o banco, e de tudo que ganhavam, dez por cento ia para a gênio de Bonifácio, que criara um fundo de assistência aos mais pobres, que transformava dinheiro em qualidade de vida. Em muito pouco tempo esse seleto grupo de pensadores, ficou tão milionário, que os dez por cento que voltavam para o banco, virara uma incalculável fortuna. Bonifácio investiu em centros de erradicação da pobreza, acabou com a miséria no país, promoveu a inclusão social e racial, – levando todos à universidade. Assim, ao invés de dar o fruto, Bonifácio ensinava a plantar. E de grão em grão, o banco cresceu tanto, que era impossível calcular o patrimônio material e imaterial que se conseguiu angariar. Ao perceber que a iniciativa de Bonifácio era um sucesso, a sociedade política uniu-se à sociedade civil, criando o projeto: Arte e Cultura Para Quem Tem Fome de Viver. Assim, todos podiam doar um minuto que fosse, em prol do santo ofício de fazer o bem. Tinha gente que saía batendo de porta em porta, perguntando: 'No que posso te ajudar? Diga-me o que queres ser, porque os teus sonhos agora fazem parte dos meus'. Sendo assim, quem gostava de moda, costurava desejos. Quem amava cozinhar, virava quituteiro de mão cheia. Quem queria ser médico, aprendia a curar. Era tanta gente fazendo o bem, que quando Bonifácio se deu conta, não havia ninguém no mundo que passasse frio, fome ou sede. Todos aquecidos, alimentados e saciados daquele amor que é gratuito, que perdoa, que liberta, que aproxima, que encanta, que afaga o seu coração e o meu. Bonifácio desde o dia que nascera, sabia que tinha a missão de ajudar. Percebera que a caridade tinha vida própria. E mesmo que nesse exato momento resolvesse cruzar os braços, todo mundo continuaria fazendo a sua parte, porque graças à caridade, ficamos viciados em amar. Bonifácio não cruzaria os braços jamais. Mas era muito bom saber que sentimentos honestos, não só mudam o mundo que se vive, mas o ser humano que nele está. Tudo é uma questão de boa vontade. Quem ama, entende o que eu digo. Porque quem ama, aprendeu a doar.

Por isso Kate amava tanto o pai. Crescer ao lado de um homem como este, era mais importante que ganhar mil vezes na loteria. Porque ser filha da alma Bonifácio era o mesmo que tirar a sorte grande. Vicentina vendo o esforço do pai e da irmã, para transformar o mundo num lugar melhor, resolveu aderir e tornou-se uma das maiores autoridades no exercício de amar. Deixou de lado o shopping e aderiu ao happening. A partir daí; parou de sofrer. Mudou tanto, que foi ideia dela criar um centro cultural, que ensinava que a consciência social é capaz de enriquecer o ser humano, não só financeiramente, mas sobretudo em nobres pensamentos e ações: Cortesia, benignidade, generosidade e humanidade. Seguindo o pensamento do pai, Vicentina dizia: 'Uma sociedade só é rica de fato, quando os seus cidadãos enxergam no outro, o melhor de si mesmos. Quando abolirmos da sociedade, sentimentos egoístas e mercenários, aprenderemos a amar não só aos outros, mas a nós mesmos. Porque ninguém pode ser feliz, vendo o outro sofrer. Por isso nessa sociedade criada por Bonifácio, a caridade era o Carro de Apolo. Pois o amor tem o poder de mudar a vida das pessoas. Como Bonifácio, dizia: 'É muito fácil ser feliz. Basta abraçar a caridade como um bote salva-vidas. Pois a caridade é o mais poderoso sentimento que a humanidade pode conceber. Mas para isso é preciso que vossa mão esquerda não saiba o que faz vossa mão direita. Faça o bem e não diga nada a ninguém. Caso contrário, o bem vira ofensa. A boa ação, vira humilhação. E quem não sabe o que é o amor, aprenderá com a dor. Deus criou-nos a sua imagem e semelhança para que entendêssemos que somos todos iguais. Viver é simbiótico: A caridade sustenta o amor. O amor sustenta a fé. A fé sustenta a esperança. Um homem sensato não pode se deixar levar por suas paixões, mesmo que seja guiado pelos melhores sentimentos. Por isso seja lá o que tenhamos passado na vida, temos que aprender a perdoar. Pois perdoar é o exercício de caridade mais pesado que há. Para perdoar é preciso entender que o orgulho e o egoísmo só nos deixam doentes. Entretanto quando se perdoa, o que era pesado fica leve'. 'Fora da caridade não há salvação', – diria Bonifácio nessa hora. Por isso digo e repito: Somos todos iguais, sim. Mas quem aprende a viver com amor, faz toda a diferença.

Caridade é sentimento palatável. A caridade não quer saber qual é a sua crença, muito menos qual é a sua religião. Porque a caridade é o oposto da vaidade. A vaidade separa. A caridade aproxima. Por isso que a caridade é o sentimento mais bonito na vida de um homem. Porque a caridade salva o homem do mal de si mesmo. Enquanto a vaidade não deixa Narciso raciocinar.

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