¡DE PUTA MADRE!





Estava muito bem na minha zona de conforto. A fama havia batido muito cedo à minha porta. E todos diziam que mesmo se a boa sorte me abandonasse, eu ainda teria uns trinta ou quarenta anos de sucesso para me recuperar. Confesso que nunca pensei que ainda seria uma celebridade produtiva nesses dias de “bundalização” da matéria, do caos intelectual do espírito, do individualismo exacerbado e do descaso com a pessoa humana. Cantar exige um esforço sobre-humano. Sobretudo porque ser um artista pop internacional, exige muito da pobre alma da gente. Não nasci para ser Lady Gaga. Estou mais para “Blue Suede Shoes” do Elvis Presley do que para “Alejandro”, versão ginecológica tirada da próstata do Freddie Mercury: 'Gaga, baby! Baby, Gaga!'. Aff! No mais, já diria o rei Roberto: “Todos estão surdos!”. A vida é assim... Se a gente se distrai, deixa de ser uma pessoa. Se a gente esquece que é humano, vem o ego e nos sufoca. Por isso  decidi trilhar o caminho do meio e ler Fernando Pessoa. Por isso decidi trilhar o caminho da verdade:  aquele que diz que humildade é a alma do negócio. Se não, certamente seria mais um demente, achando que o sucesso coloca alguém num pedestal acima do bem e do mal. Não. Levo a minha vida tranquilo, aproveitando o que posso aproveitar, sendo simpático com todos, amando meus fãs, sempre achando que as pessoas enxergam em mim muito mais do que realmente sou. Fãs exagerados, jogados aos meus pés, com a alma no chão e a cabeça na mão. Perdão, Cazuza. Perdão! Invadir a sua música é quase um sacrilégio! Meus fãs... Amo vocês! Depois que os gringos disseram que o que eu  faço é cult, todo mundo curte! Bendito New York Times, baby! O porco chauvinista do Tio Sam sabe o que faz. Bendito Tio Sam, baby. Bendito! Às vezes fico até sem graça, sem chão, sem teto mesmo; maluco beleza total, quando recebo elogios tão impactantes. Um exagero! Outro dia disseram que eu sou o tipo de artista que pensa mais com o pênis do que com o cérebro. E olha que não é bem com o pênis que eu penso! Não entendeu? Deixa para lá... Fiquei impactado! Esquece. Agora entendo que algumas pessoas se sentem infelizes com a felicidade dos outros. É por isso que dizem que santo de casa não faz milagre. Porque para alguns parece deselegante (para não dizer outra coisa), alguém igual a eles (humano, de carne e osso, que sente dor de barriga e ainda chupa chupeta, faz cocô nas calças e se urina todo quando bebe), conseguir em segundos o que eles não conseguirão nem daqui a três mil reencarnações. Ufa! O que alguns esquecem é  que um artista famoso também paga o preço pela fama que tem. Nada nessa vida vem de graça. E tudo, mas tudo mesmo, passa pelo crivo do merecimento. A oportunidade é dada, se sabemos usá-la, ela transforma-se numa benção. Caso contrário, ela vai e volta feito uma maldição. A isso chamamos 'efeito boomerang!'. É por isso que se vê tanta gente famosa caindo no abismo das incertezas. Fama não é sucesso. Sucesso vem com trabalho, com talento, com vocação, com dias cheios de noites insones, de esperas infinitas ao lado do telefone, de  testes intermináveis, de muito medo de tudo dar errado, da vontade de querer acertar, da fé que nos impede de ficarmos parados à beira do caminho. Fama é algo que cai no esquecimento. Fama não me interessa... Não, não. É assim que me sinto: um “cantautor” a caminho da alma do poeta, que um dia, quem sabe, venha a ser um ser humano de verdade, daqueles que Deus sente orgulho de ter posto no mundo. Utopia? Amor e paz entre os homens... Esta é a minha maior utopia. Na maior parte do tempo, o amor não precisa de palavras. O que a gente tem por dentro é o que nos define. Alguns têm serragem misturada à estrume no lugar do coração. Outros; alma. É a alma que nos põe de pé. O que pode ser mais urgente para o ser humano do que o amor? Quem pensa o contrário, não tem modos, muito menos delicadeza. "Uma árvore ôca, vazia, procurando corpo em folhas mortas" – pensei. Adoro ter um dedo de prosa comigo mesmo. Simples assim. 

  

Sei que sou um ser orgânico imbuído por essa força que invade-me a alma. E como ela se chama? Chama-se força-fé, seu doutô! Ou santa fé para os íntimos, meu rei! Essa fé que me trouxe até aqui, que me fez acreditar que não haveria um lugar nesse mundo onde não soubessem o meu nome, que me fez atravessar o Atlântico, correr mundo, que me faz voltar para casa, e calmamente, voltar à cabeça ao travesseiro, orar,  agradecer, escorregar para debaixo das cobertas, gozar com meu amor e dormir. Não seria nada sem ela. Essa fé remove montanhas mesmo! Tanto que em meio a tantas perdas que a vida me deu, tantos parentes e amigos desencarnados, em meio a tantos  abismos que me atirei, a tantos buracos que caí, a tantas decepções e injustiças, em meio a tantas ciladas que a  vida me salvou: ainda acredito que dias melhores virão. Como alguém pode ser feliz vivendo numa cidade tão violenta como o Rio de Janeiro? Sei lá... Parece mesmo um contra-senso acordar feliz todos os dias num mundo cada vez mais insano, e ainda assim, acreditar que mesmo estando tudo errado, ainda será mais um lindo dia para se cumprir a vontade de Deus. Meu Deus! Seja abençoado, meu Pai! Simples demais, não é? Pois é... Simples assim.  




Ontem participei de um concerto aqui na Alemanha, visando levantar fundos para uma projeto contra a violência no mundo. Uma campanha soberanamente solidária. Confesso que mesmo hoje, sendo considerado um dos artistas mais produtivos e aclamados da minha geração, ainda fico tímido quando percebo que em um evento desta magnitude, me colocam no mesmo patamar de artistas que ainda ontem, eram meus ídolos. Um sacrilégio! Eu sou um operário da Arte. Um garimpeiro da alma humana. Cantar é a única coisa que sei fazer bem nessa vida. E me esforço bastante para não fazer feio. Sei que com a minha música posso levar mensagens de amor, afeto, paz e caridade, a corações que nem sequer sabem o que é isso. Há muita inveja e força negativa nesse mundo, sabe? Tem gente que só consegue ser feliz fazendo o outro sofrer. E quando vejo gente boa de verdade, daquela casta de célebres espíritos que nasceram para praticar o bem, fico muito emocionado. Todo ser humano deve se sentir honrado ao ser convidado a fazer o bem. Solidariedade começa quando a gente abre os olhos e tira os pés da cama. Acontece até quando a gente dorme. Acontece quando a gente nasce e quando a gente morre. Porque fazer o bem é a única herança palpável, palatável e tátil que recebemos de Deus. E quanto a você, não sei, mas da minha herança cuido eu! Portanto, vou fazer sempre todo o bem que puder e ir correndo para casa pensar em coisas boas. Assim, minha música ajuda, meu coração bate mais forte, minh'alma amadurece e nada em mim atrapalha. Simples assim.




Agora estou voltando para o hotel, depois de gravar algumas cenas para a novela das oito. Pois é... Agora estou atacando de ator. Coisas de um artista com a alma inquieta! A emissora de TV uniu-se à gravadora no Brasil, aproveitando a minha tournée pela Europa e o show beneficente de ontem em Munique, para gravarmos coisas por aqui. No bairro em que gravamos tem até uma rua com meu nome, ao lado de um outdoor enorme! Esta manhã apareceram tantos fãs no set de filmagem, vindos de várias partes do velho mundo; fãs estes que souberam das gravações da novela através do Twitter, que me senti vestido com a alma do Michael Jackson. King of Pop! Nem tão simples assim. 




Bueno, vou ficando por aqui com a imagem da Gal cantando "Mamãe, coragem". Desculpe essas mal traçadas linhas. Devido ao avançado da hora (já entramos na madrugada a alguns minutos atrás), o cansaço impera, a visão turva e o corpo pede cama. Amanhã vou à Berlim para mais três shows. Depois mais gravações para a novela, mais beijos na protagonista do horário nobre, mais orgasmos indiscretos e ereções fora de hora, muito caviar e champagne; porque ninguém é de ferro, caminha, soninho, e em duas semanas no máximo: Brasil! Saudades da minha terra: Saudades do feijão com arroz. Saudades do meu cachorro. Rio de Janeiro. Posto 9. Papai e mamãe. 69. Namorada. Dormir de conchinha depois do sexo. Casa. Disco de Ouro. Fla x Flu no Maracanã. Sessão da tarde. Brigadeiro de colher. Camisinha de morango. Pôr-do-sol em Ipanema... Saudades de tudo que vale a pena. Inclusive, saudades de cantar: “Liberdade!, liberdade! Abre as asas sobre nós!”. Simples assim.




Aviso aos navegantes: O Paraíso agora mudou de endereço: Rua da Felicidade, número 20.

Aprendi uma grande lição nessa vida: Todo materialista se acha muito importante. Mas se esquece que todo mundo faz cocô.

I LOVE YOU ALL.

Beijo, me liga!









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Comentários

  1. Betto, impossível não ficar emocionada com um texto seu. Tudo que você escreve vem de uma alma muito especial. E você é de uma inteligência, de uma sagacidade, de um talento verdadeiramente avassalador. Parabéns, querido! Amamos você!

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  2. Maravilhoso esse texto, Betto! Um luxo!!!

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  3. Betto, seu texto é tudo de bom! Amei, gatinho! Amei!!!

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  4. Ricardo Soares da Costa6 de dezembro de 2010 às 07:04

    Que talento! Adorei!

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