VIVER POR VIVER
Quando
entenderes que é para ti que parto quando alço voo, saberás que és
tu o meu destino.
Um era uma caixa de chiclete.
O outro, uma caixa de bombom. Às vezes pareciam uma caixinha de surpresa. Havia
dias que eram uma caixa de lenço. O amor deles não caberia em uma caixa de
papelão. Pois eram armários e gavetas e cômodas e criados-mudos. Um dia
brigaram sem quê nem porquê. Depois fizeram as pazes. Era o amor batendo-lhes à porta, e dizendo:
“Deixa-me entrar”. Eles eram como caixas de sapato: se havia alguma coisa
dentro, sorriam. Caso contrário, choravam. Conheceram-se em um dia ensolarado,
ao largo de uma avenida, vislumbrando o acordar da lua e o adormecer do sol.
Nasceram um para o outro, de certo. Cheios de poesia, contos, crônicas e
romances. Se fossem discos, encheriam uma prateleira. Se fossem livros, uma
biblioteca. Se fossem o amor, a humanidade inteira. Amavam-se tanto, que se fossem coisas, abarrotariam um container. Eles eram a prova de
que há amor no mundo. Um dia desses ouvi dizer que casaram-se. Dizem que vivem
em um ninho pertinho do céu. Dizem que é só esticar o bico que alcançam as
estrelas. Hoje eles são nuvens de algodão doce.
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