VAN FILOSOFIA
Inspirado na vida e na obra de William Shakespeare, Haggar,
um alquimista dos tempos modernos, fez da frase dita por Hamlet, um marco em
sua biografia. Por isso, todos os dias ao acordar, olhava para a vida (para
tudo o que ela representa) e dizia: “Há mais mistérios entre o céu e a terra do
que supõe nossa vã filosofia”. Era o convite à imaginação e à descoberta do
mundo. Pois Haggar sabia que fora de si, havia um universo pronto para ser
desvendado. E que o mesmo se dava nos adentros de sua alma. Para ele, todos
somos o conjunto dos astros com tudo que nele existe. Isto significa que
segundo o seu raciocínio, a cada um de nós é dado o domínio material,
espiritual, intelectual, afetivo, ético e moral, como herança divina.
Para exercer o seu lado Deus, afinal de contas somos barro
feito à imagem e semelhança do Criador, ele que era dado a transformar tudo que
tocava em ouro e panaceia, teve a brilhante ideia de dar a volta ao mundo em
uma van: veículo fechado, usado no transporte de mercadorias e animais. Só que
no caso dele, as mercadorias eram livros. Isso mesmo, livros. Livros que lera
na primeira infância, que lera na segunda infância, que lera na adolescência,
que lera na idade adulta. Livros que acompanharam-no desde priscas eras e que
conheciam-no mais do que ele a si mesmo. Livros que representavam a História da
Humanidade: hábitos e costumes. Livros, enfim, que para ele, eram a sua bagagem
espiritual. A herança que deixaria para os seus irmãos da Terra quando daqui
partisse para uma das muitas moradas da Casa de Deus. E foram esses livros,
justamente esses; a coleção de uma vida inteira, — que ele colocou em sua van, e saiu sem rumo certo; mas com a
certeza de que alcançaria o outro lado do mundo.
Como amava Shakespeare e sua obra, deu ao “furgão ou
miniônibus com porta traseira e portas ou painéis de abertura laterais,
geralmente com janelas, para diversos usos, especialmente no transporte de passageiros”,
o nome de “Van Filosofia”. E foi com esse furgão que conheceu os seis
continentes (Ásia, América, África, Antártida, Europa e Oceania); horas por
terra, em outras por ar, noutras por mar. E quando foi preciso usar avião ou
barco, a Van Filosofia cumpriu o seu papel de levar conhecimento ao mundo como
um todo. Para tal, Haggar parava a van em um canto, convidava os passantes a
aproximarem-se, escolherem gratuitamente um livro, e levarem literatura para
dentro de suas almas. Foram livros doados em escolas, hospitais, presídios,
asilos, orfanatos… Livros que mudaram a vida daqueles que ousaram ver o que
tinha do outro lado da capa. E que foram mais audaciosos ainda: atravessaram o
livro de ponta a ponta até chegarem à contracapa.
Haggar
morreu velho e feliz em uma ilha do Pacífico. Dizem que foi em dia de chuva.
Enquanto uma fina garoa banhava a ilha, Haggar que lia; fechou os olhos, e
quando o sol brilhou sobre as gotas da chuva; ele que tudo que tocava virava
ouro, — transformou-se em arco-íris. Dizem que hoje mora no Céu: onde estrelas são livros e livros são estrelas.
Van Filosofia: uma van cheia de livros, que sai pelo mundo
levando amor e poesia.
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