FORA DE ALCANCE
To be or not to be gouines, that’s the question.
Carl havia conhecido Franziska
no Aeroporto de Heathrow, enquanto aguardava o voo para Paris. Franz, como era
conhecida por todos, era correspondente internacional do Le Monde em Londres. O
motivo da viagem de Franziska era o casamento de sua irmã, Joële, que
aconteceria em dois dias na Basílica de Sacré-Cœur de Montmartre. Carl era professor
do Mestrado e Doutorado em Antropologia Social da University of London. O
motivo da viagem de Carl era uma série de palestras que daria na Université
Paris-Sorbonne. Por obra do destino (afinal de contas o universo sempre
conspira a favor daqueles que amam), sentaram-se um ao lado do outro na sala
VIP da Air France, trocaram olhares, sorriram, conversaram sobre amenidades; e
quando se deram conta, já estavam nas nuvens: à milhas e milhas de distância; a
caminho de Paris. O encontro inaudito marcou-os tanto, que como um passe de
mágica, tornaram-se íntimos feito duas almas simétricas. Não que tivessem dito
tudo. Claro que não. Conheciam um do outro apenas aquilo que o outro quisera
revelar. Muito pouco, é verdade. Mas o suficiente para erigir uma grande
história de amor.
No avião, Franziska contou-lhe
que praticava a gouinage. Em linhas gerais, gouinage, é a palavra francesa para
lesbianismo. Ou melhor, sexo sem penetração. Isso mesmo. Franziska era adepta
do sexo que privilegia o beijo, o olhar, o toque, a masturbação, as
preliminares: sexo oral, massagens, ‘docking’, fricção dos genitais, esfrega-esfrega, roça-roça, mão naquilo, aquilo na mão, aromas, sabores, acessórios e carícias. Não que a penetração seja proibida. No
sexo nada é, desde que ambos o queiram. A penetração só não é o foco. Apenas
faz parte do jogo. Ela contou-lhe que embora o vocábulo ‘gouinage’ tenha sido inspirado na
prática sexual entre duas mulheres, milhares de casais heterossexuais em todo o mundo, utilizavam
a gouinage para apimentar a relação. “Até porque carinho e cuidado com o outro
foge a todo e qualquer rótulo”, —
completou. Por ser uma exímia ‘gouines’, Franziska utilizava o estudo do corpo
do parceiro, e a descoberta de diferentes pontos de excitação, para alcançar o
orgasmo. Era capaz de ficar horas na cama, fazendo e recebendo carinho. Por
isso confidenciou-lhe que duas, quatro, seis, oito ou dez horas fazendo amor, era uma
constante em sua vida. Carl ficou boquiaberto com tamanha explanação, e com a
audição e o cérebro excitados, sentiu
eriçarem-se os pelos do corpo, provocando arrepios em lugares inomináveis. O
clima ficou cada vez mais quente, e a conversa teria dado a volta ao mundo, se
não fosse curto o trajeto de Londres à Paris; que é de duzentos e treze milhas: o que dá cerca de vinte e seis minutos em uma avião comercial. Ao desembarcarem
no Aéroport Paris-Charles de Gaulle (Aéroport Roissy) estavam com os olhos
marejadas. Pois criaram um tal envolvimento de almas, que os dois pertenciam
mais ao outro do que a si mesmos. Para não perder o foco, Franziska
segredou-lhe que durante o voo, e ainda em meio a aterrissagem, teve de seis a oito
orgasmos. Carl, um tanto ruborizado (afinal de contas aquilo era algo novo para
ele) confessou-lhe que havia passado pela mesma experiência. Imediatamente
ouviu-se um estampido; seguido de uma longa gargalhada, houve um leve toque de
lábios, um largo sorriso de cumplicidade, um tímido toque de mãos, e o convite para um café. Sem
conseguirem desgrudar-se por um segundo, acharam por bem hospedarem-se
no mesmo quarto de hotel. Embora a família de Franziska morasse em Paris,
aquele encontro proporcionou-lhe tanto prazer, que ficar ao lado de Carl era
imprescindível.
Em menos de meia hora já
estavam em lençóis de seda. E lá permaneceram por quase doze horas. Exaustos,
dormiram o mesmo tanto de horas, e ao acordarem, repetiram a dose por mais doze
horas. Entre um compromisso social, e outro profissional, corriam para o hotel e praticavam gouinage o quanto
dava. O mesmo se deu antes e depois do casamento de Joële. Algo que se repetiu
entre as palestras de Carl na Sorbonne. Foram cinco dias, cento e vinte horas,
e sete mil e duzentos segundos de prazer. No retorno à Londres, já estavam mais
que casados. Eram espíritos enamorados, que ficariam juntos muito mais do que “até
que a morte nos separe”, porque aquele amor era muito mais que infinito. Carl e
Franziska nasceram um para o outro.
E como em todo Conto de Fadas que
se preze: Foram felizes para sempre.
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