BERGMAN






Bergman me deu um cinzeiro que trouxe de um motel sueco. Eu não disse nada. Não quis ser direto. Contudo, fiquei com aquela pulga atrás da orelha: “O que Bergman havia feito no motel?”. Quem era eu para perguntar? Entretanto tive vontade de continuar. Mas não fiz. Se fosse traição, não teria me trazido a prova do crime. Todavia, o que faz alguém num motel, se não for o óbvio. Embora saiba que muita gente leva a vida toda, sem fazer o óbvio, Bergman não é homem disso. Ele conhece o óbvio como ninguém. Não gosto de repetir palavras. Sei que isso torna o texto pobre. Mas o óbvio não para de me molestar. Agora que Bergman está no banho, eu deveria vasculhar os bolsos de sua calça, até encontrar uma resposta. Talvez tenha alguma coisa na carteira. Talvez uma marca de batom no colarinho. Talvez um bilhete apaixonado. Talvez uma peça solta no quebra-cabeça. Todavia, não farei isso. Não vou me aproveitar de sua ausência, para tocar no inominável. Acho que odiaria ser traído. Acho que odiaria saber de sua infidelidade. Bergman é mais esperto que isso. Nosso amor não duraria um segundo, se eu soubesse a verdade. Mas qual é a verdade? Um monte de carne esparramada numa cama? Um ou dois orgasmos perdidos sob o cobertor? Não sei. Bergman não me trairia. Não, não. Bergman me ama, eu sei.

Se o fantasma de Bergman me deixar, rasgo todos os seus manuscritos, e volto para Estocolmo a pé.       


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