BOMBA H






Papai tem um jeito esquisito de lidar com o  pecado. Tudo para ele não presta. Nada está certo diante da vida. Ele diz que pecamos até quando respiramos. Por isso obríga-nos a expirar mais que inspirar. Segundo ele, o demônio esconde-se nos nossos pulmões, roubando-nos o ar. Por isso passei parte da vida com medo de respirar. Para mim respirar era errado. Sufocado assim, respirar não era coisa de Deus. Papai havia ensinado que para expulsar o tinhoso do corpo, era só prender a respiração, apertar bem firme o nariz, e num golpe só, arrancar todo o ar dos pulmões. Havia vezes que eu fazia isso o dia inteiro. Inspirava e expirava até ficar bem limpinho. Minha irmã, coitada, uma doida de Cinema Mudo, daquelas de jogar  pedra em avião, fazia tudo que papai queria. Acordava às cinco da manhã, ajoelhava no milho, acendia uma fogueira, jogava gasolina no corpo, e ali, perto das chamas, rezava umas orações que papai ensinava. Por pouco não pegava fogo. Por bem menos, não carbonizava. Papai misturava de tudo um pouco. Dizia que podia extrair o melhor de cada religião. Havia vez que acordava católico e passava o dia rezando o terço. No outro, acordava pai-de-santo, e corria atrás das galinhas para fazer um despacho. Hoje ele acordou dizendo-se rabino, e está lá na sala com a Torá na mão. Só esta semana ele já foi adépto do Bramanismo, do Cristianismo, do Hinduísmo, do Islamismo, do Espiritismo, do Sikhismo, do Zoroastrismo, da Fé Bahá’í, da Umbanda e do Candomblé.

Sujeito estranho papai. Hoje acordou dizendo-se ateu.       



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