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IF I CAN’T HAVE YOU

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“I gave it all so easily to you my love”: —  Amar você me acabou com o fígado!  —  disse Ramón a Angeles. Esbaforido, entrou sala a dentro, atravessou o passadiço com piso de madeira, subiu dois lances de escada, permeou um corredor extenso, respirou fundo e bateu a porta do quarto. Angeles não se fez de rogada, correu até o marido com a resposta na ponta da língua, e esbravejou: “São atitudes assim que acabam com o casamento!”. Silêncio. Eles eram um casal adorável. Amavam-se. Acontece que com o passar dos anos, esse amor que era infinito, emurcheceu. Caiu na monotonia, no hábito, na facilidade de ter o outro ao alcance das mãos. Virou lugar-comum. Chavão. Clichê. Não que seja ruim ter o outro por perto. Longe disso. Mas eles pararam de valorizar a escolha que fizeram e que os levaram ao altar e aos votos de amor eterno. Aqueles que dizem: “Até que a morte nos separe.” Votos, aliás, que significam aparceiramento, associação, centro, companhia, consórc...

DON´T GO BREAKING MY HEART

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Quase ‘Roda de bicicleta’, de Marcel Duchamp: Era uma caneca como outra qualquer. Uma caneca, daquelas que a gente usa para tomar água, café, chá, refrigerante, cerveja ou suco. Uma caneca, dessas que se guarda no armário da cozinha ou na cristaleira ou deixa no escorredor de louças ou em cima da pia para depois guardar. Era uma caneca qualquer sim, mas como bem sabemos, nada nesse mundo é uma coisa qualquer. Por isso (e graças a isso), embora a caneca fizesse par com outra de sua espécie; ou outras, já que faz parte de um conjunto de canecas; que quando compradas eram pares, mas com o passar dos anos tornaram-se ímpares; dado que, infelizmente, muitas dessas quebraram; perderam-se; extraviaram: morreram. E como bem sabemos também, posto que coisa alguma é por si só uma coisa à toa; uma vez que todos nós (substantivos concretos e abstratos) trazemos aqui dentro (na parte em nós que nos torna raros no universo e que nos representa no mundo) algo de nosso; que por mais pleonás...

THANK YOU FOR LOVING ME

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                             I’ll be here when you get back: — Eu errei — disse o escritor ao espelho. — Errei profundamente. Exprimi cousa horrível a quem amo. Usei da arte de Camões para ofender. Logo eu, que não sei fazer outra cousa a não ser escrever, empreguei o meu talento contra mim mesmo. Destruí a minha vocação. Fui tão infeliz em minha fala, que certifiquei a quem amo, que tal impropério era verdade. Mas não era. Eu menti. Pois fiquei com raiva ao ver-lhe em fotografia colorida, sorridente, ao lado de seu atual namorado. E você usava, Deus!, blusa verde que lhe dei em Dia dos Namorados. Então senti-me menosprezado; diminuído. Destarte; movido pelo ciúme, disse cousa que só em pensar, sinto raiva de mim. Cousa, que se ousasse expressar em voz alta, romperia-me os tímpanos. Como é que se diz algo sem pensar? Como alguém movido pela inquietude da alma; com o espírit...

A WHITER SHADE OF PALE

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Back in the beginning of the road: Ele me olhara com ar de aquarela, como uma namoradeira na janela. Ele me olhara com a liberdade de uma cor primária, como se eu fosse uma combinação aditiva de cores; pincelando em mim o vermelho, o verde e o azul. Tricromático. Em seguida, olhou-me a mim, sussurrando em meu ouvido com sotaque franco-britânico: “You are red, green and blue, mon amour”. Depois, ele me olhara como uma combinação subtrativa de cores, enxergando-me ciano, magenta e amarelo. Ele me via como se eu fosse um matiz; uma coração; uma pintura; um corante; um tingimento. Para ele eu era um impresso; uma filipeta: um cartaz.   Era o primeiro dia do ano. E se não me engano, era belo como um afresco feito com pigmentos desmanchados em lágrimas.   CONTACT CARLOS ALBERTO PEREIRA DOS SANTOS: curtacontos@hotmail.com A WHITER SHADE OF PALE™   © copyright   by Carlos Alberto Pereira dos Santos 2015 TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERV...

SEJA COMO FOR

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La papeterie de l'avenir: O futuro é uma folha de papel amassado, cujas marcas (os amarrotados) representam o passado. Ao ser aberto, o papel lança mão do lápis (ou da caneta), e escreve ali mesmo (em si mesmo), a sua autobiografia. Logo, o papel já não está mais no passado (amarfanhado), e o presente (desamolgado), agora é o futuro (instaurado). O futuro é uma folha em branco, do qual o papel (reciclado); agora desamassado, tem algo  a dizer: Escreva em mim que eu escrevo em você. Ou melhor: De ora em diante; endireitado, só resta ao papel prescrever: O futuro bate à sua porta, baby. Abra. Você não irá se arrepender. Isto é: Seja como for, faça amor. Feliz Ano Novo.   CONTACT CARLOS ALBERTO PEREIRA DOS SANTOS: curtacontos@hotmail.com SEJA COMO FOR™   © copyright   by Carlos Alberto Pereira dos Santos 2014 TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS BY CARLOS ALBERTO PEREIRA DOS SANTOS

DIA CLAREAR

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When love is a butterfly: —  Por que o amor da minha vida, com tanta gente no mundo, foi se apaixonar justamente por mim? —  Merecimento. —  E o que faço com tudo isso aqui dentro? —  Viva. —  O amor é coisa esquisita, pinica. —  Eu sei. Desde que lhe conheci, sinto um não sei o quê em meus adentros. Uma coisa me belisca: feito um rebuliço no estômago; como se a vida me dissesse que há borboletas voando dentro de mim. Um frio na espinha, sabe. Um calor senegalês que me avermelha a tez. Um carnaval de confete e serpentina, que me ilumina. Uma máquina me rebobina. Coisa assim. —  E isso é amor? —  Com certeza. CONTACT CARLOS ALBERTO PEREIRA DOS SANTOS: curtacontos@hotmail.com DIA CLAREAR™   © copyright   by Carlos Alberto Pereira dos Santos 2014 TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS BY CARLOS ALBERTO PEREIRA DOS SANTOS

AND I AM TELLING YOU (I’M NOT GOING)

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“No, no, no, no way I'm livin' without you”: — O que é o natal? — perguntou o profano ao divino. — O natal é o nascimento do Cristo, — respondeu-lhe. E quem é Cristo? — indagou o profano. — Cristo é uma casa cheia de portas e gavetas, salas e jardins, estantes e livros e quadros e criados-mudos. — Como assim, uma casa?! — Isso mesmo. Cristo é o lar. E o que é o lar senão o lugar da família, do amor, do aconchego, da paz, da união? A pergunta era retórica, o profano entendeu que não precisava responder. Posto isto, o divino continuou. — Cristo é um pouco de tudo que há no mundo. Ou melhor, é um pouco de tudo; de cada coisa; de cada um de nós. Todos os anos, temos um encontro marcado com Ele, em 25 de dezembro. Isso não quer dizer que não possamos chegar antes. Aliás, isso quer dizer que devemos estar com Ele todos os dias. Já que o Cristo é um lar, somos a morada d’Ele também. Se Ele é nossa casa; e como eu disse, Cristo é tudo e todos o tempo todo, en tão ...