AND I AM TELLING YOU (I’M NOT GOING)

“No, no, no, no way I'm livin' without you”:

— O que é o natal? — perguntou o profano ao divino. — O natal é o nascimento do Cristo, — respondeu-lhe. E quem é Cristo? — indagou o profano. — Cristo é uma casa cheia de portas e gavetas, salas e jardins, estantes e livros e quadros e criados-mudos. — Como assim, uma casa?! — Isso mesmo. Cristo é o lar. E o que é o lar senão o lugar da família, do amor, do aconchego, da paz, da união? A pergunta era retórica, o profano entendeu que não precisava responder. Posto isto, o divino continuou. — Cristo é um pouco de tudo que há no mundo. Ou melhor, é um pouco de tudo; de cada coisa; de cada um de nós. Todos os anos, temos um encontro marcado com Ele, em 25 de dezembro. Isso não quer dizer que não possamos chegar antes. Aliás, isso quer dizer que devemos estar com Ele todos os dias. Já que o Cristo é um lar, somos a morada d’Ele também. Se Ele é nossa casa; e como eu disse, Cristo é tudo e todos o tempo todo, então estamos n’Ele e Ele está em nós. Somos a Sua morada, porque Ele é a nossa Casa. Cristo é o alimento da alma. O maná. É Ele que sacia a nossa fome. Ouvi dizer, certo dia; naqueles tempos em que percorria o mundo levando a palavra de Deus aos rincões do planeta, que “o amor cobre uma multidão de pecados”. Pois, Cristo é isso, o perdão levado ao mais alto grau de perfeição. Cristo também é liberdade; libertação. É o convite à mudança, à reforma íntima, à modificação. É também a esposa que espera pelo marido na varanda de casa. Ou a mulher grávida que passa nove meses a gerar o filho. Cristo é vida. E como bem sabemos, a vida não tem fim. Deus é amor. É o encontro de almas. Cristo é este amor materializado; este encontro vivificado; redivivo. Embora seja, obviamente; espiritual. Cristo é o Espírito feito em carne. É aquele que fez-se Homem (humanidade) por amor aos homens. Cristo é o nosso bem maior. Pois Ele é o enviado de Deus. Veio para ensinar a estes, seus irmãos da Terra, que tudo que Ele fez (e faz) é possível de ser realizado por nós. Todos somos capazes de caminhar sobre as águas; de transformar a água em vinho nas Bodas de Caná; de multiplicar pães e peixes; de expulsar os vendilhões do Templo; de promover a ressurreição de Lázaro; de presenciar o óbulo da viúva defronte ao gazofilácio; de fazer ver o cego de Betsaida; curar o paralítico de Cafarnaum; e de libertar-nos, dentre outros feitos, do mal de nós mesmos. Talvez este, aliás, seja o nosso maior desafio: transformar a nós mesmos em uma pessoa melhor, — fiz-me claro? — questionou o divino ao profano. — Claro feito água, meu caro — atendeu o profano.    

Os dois ficaram conversando por horas. Mas não houve mais pergunta, e conseguentemente, resposta. A conversa partiu para o espaço da contemplação. Formou-se ali a erudição. Isto é, o entendimento de que haja o que houver; aconteça o que acontecer, o amor vencerá. Compreendeu-se que a terra (o planeta e o solo que nos nivela ao rés-do-chão) é um organismo vivo. Quer dizer, temos todos a mesma raiz. Somos fruto da mesma árvore: o Criador. Fomos gerados por Este por amor. E o Cristo, Este de nome Jesus, é a promessa de Deus de que há mais em nós do que revela nossas almas. Cristo é o convite ao autoconhecimento; à reflexão. Este homem chamado Cristo também nos faz um chamado: “Ama a Deus sobre todos as coisas e ao próximo como a ti mesmo”.

Sim, Cristo é uma casa cheia de portas e gavetas, salas e jardins, estantes e livros e quadros e criados-mudos.

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