ENSAIO SOBRE O ABANDONO
Eu tenho
um problema muito grande com o abandono. Porque as pessoas simplesmente me
abandonam. Como meu pai me abandonou e outros tantos. Eu sempre achei que a
culpa era minha. Porque para não ser abandonado, doava tanto amor; pois ‘tanto
amor’ era todo o amor que eu tinha. Tanto amor, que eu ficava vazio. Tanto
amor, que eu ficava tonto. Tanto amor, que não sobrava nada para mim.
Não, a
culpa não era minha. Eu me doava, pois dava o que eu tinha: me doava todo, por
completo, e por inteiro. Mas quem me recebia, não me entendia… A quem eu
me dava, eu não pertencia. Fui tido como descartável por muita gente, sabe. Mas
quem perdeu não fui eu. Aliás, não sei quem ganhou nem quem perdeu. Mas eu não
me perdi.
Aprendi
muita coisa com o abandono. Uma delas, e uma das poucas que ouso revelar;
tornar público; publicizar; é que o abandono, — esse que também me trouxe o pertencimento,
— é que quando me olho no espelho não vejo um estranho: eu me vejo e me
reconheço. Quando me olho no espelho, eu vejo a mim. Assim… nu. Assim… cru. A
mim não me abandono, sabe. A mim me dou e me doou. Assim, como um saco de
confete jogado ao vento.
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Este texto faz parte do livro "Ensaio sobre o abandono” (eBook Kindle) e está à venda em:
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Lindo!
ResponderExcluirEmocionada, Carlos. Você escreve com delicadeza. Lindo! Sou sua fã! Bjssssssssssss, Rose Bueno.
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