A COVA DOS MALDITOS
No dia que me deixaste Medeia, voltei para o Hades, de onde jamais devia ter saído. Viver no mundo dos mortos, não é mais ou menos importante, que viver no mundo dos vivos. Mas demorei muito para perceber de que forma as coisas acontecem, querida. E no meu caso, tendo a liberdade ameassada, pareceu-me perigoso demais ousar dar o próximo passo. Preferi recuar, não por escolha ou convicção, mas por medo. Sem teu amor, não sabia o que me esperava na próxima esquina, Medeia. Sem ti querida, não pude arriscar o meu pescoço pelo enfadonho desejo de desvendar-te. Longe de ti amada, recuei mil passos sem conseguir reencontrar-te no tempo. Sem teu calor, uma centelha de loucura e vertigem, fez-me cair por terra. Logo eu, Jasão, um homem tão cheio de vida, sem ti estou morto. Longe de ti sou uma alma cheia de sentimentos vazios. Um herói à beira do abismo, sem saber se o melhor para mim é morrer, reivindicar o velocino de ouro ou viver fazendo de cada segundo, uma visão torpe e banal do futuro. E como bem sei, amor: Tudo tem a sua razão de ser, Medeia. É assim que as coisas se completam e os milênios avançam rumo à novas Eras. Para nós, criaturas além tempo, tudo pode acontecer. A vida sempre está aberta à novas experiências, para que possamos crescer e nos renovar, sem que nada precise ser explicado.
Longe de ti Medeia, vi criaturas flutuantes, rebatizando velhas almas. Vi o espírito do rei Pélias, entrando e saindo do trono de lolco. Desde então, pesadelos crús insistem em povoar-me a mente. Para ter o Tosão de ouro, não tenho medo de ir à distante Cólquida, e lavrar o campo com dois touros ferozes e indomáveis. Pois me ensinaste a atirar fel e fogo pelas narinas. Não, não tenho medo de nada, querida. Nem de semear no campo lavrado, os dentes do dragão morto por Cadmo. Pois sei que me farás um unguento que me protegerá por um dia, o corpo e o escudo, tornando-me invunerável ao fogo e ao ferro, para que assim possa dominar os touros e lavrar o campo. Sequer tenho medo da seara de soldados, que nascerá dos dentes do dragão. Pois me ensinaste como derrotá-la. Muito menos temo reclamar o velo de ouro a Eetes. Por isso, digo e repito Medeia: Não... Não tenho medo de nada. A única coisa que me amedronta é o medo de te perder.
O Medo deu-me de presente uma nova vida que acabou de chegar. Mas tive medo do presente do Medo... E ao fugir para longe dele, baixei as pálpebras, deixando os olhos semi-abertos. Naquele instante fui invadido por visões: Lá estava eu, Jasão, rindo da minha própria ingenuidade. Deixei-te Medeia, para casar-me com Creúsa, porque como bem sabes, o rei Creonte assim me convencera. Do fundo do meu coração, te juro amor, não estava nos meus planos banir-te de Corinto. Arrependido, corri em tua direção. Mas era tarde... Havias partido da cidade. Fugiste para Atenas, levando contigo minh'alma tingida com o sangue de nossos filhos. Paguei um alto preço pela minha infidelidade, enquanto à minha frente, Creúsa e Creonte; queimavam. Calado, petrifiquei; frio como o gelo colado às barbas do Minotauro. Um herói atrós; perdido em dois mundos. Mudei-me para a morada dos Doze deuses do Olimpo, Medeia. Agora sou um herói oxidado, despencando com o vento. Um guerreiro desabando em soluços entre a paz e a espada. Aterrorizado pelo Medo, virei de costas, tentando enxergar os vultos que formavam-se à minha face. Os habitantes do Monte Olimpo estavam mortos, amor. Deuses que viveram comigo a tempos, sufocados em covas rasas, aprisionados em celas abertas, sem conseguirem libertar-se das próprias amarras. Os principais deuses do panteão grego não conseguiram sobreviver à própria maldade. Sim... Zeus, Hera, Posídon, Atena, Ares, Deméter, Apolo, Ártemis, Hefesto, Afrodite, Hermes e Dioniso estão mortos. E não podem mais me dizer o que fazer da minha vida. Covardes, foram embora antes que eu pudesse compreender quem sou. Deixaram-me para trás, desmemoriado e louco, arrancando de mim até quem eu era. E todo aquele febril desejo de me fazerem eterno como um sopro divino? Delírios de velhos deuses, que esqueceram no paladar, o sabor da magia. Jamais pude compreender toda aquela necessidade de serem diferentes das demais almas que habitavam o universo. E agora estavam ali, carbonizados como um assado esquecido no fogo, – impossibilitados de fugir.
A morte dos deuses do Olimpo fez-me perceber a finitude da vida. Se até os deuses morrem, quem ficará de pé para contar a nossa Odisseia? Este pensamento lembrou-me o livro “A História do Ladrão de Corpos”, de Anne Rice, que será escrito a milhares de anos daqui. Como transito entre o presente, o passado e o futuro, o tempo para mim é irrelevante. Mas não falo de mitologia vampiresca, Medeia. Pois qualquer vampiro enlouquece, quando descobre que se não morrer, não alcançará a vida eterna. Por isso, cedo ou tarde, todo vampiro se mata. Portanto, sem essa de “vampiros”, meu amor. Falo de mitologia grega. E de ti e de mim. Falo do elo de derrotados e falo de superação. Falo de deuses infelizes à procura do Reino de Hades. E de esculturas em mármore perdidas na escuridão da noite. Falo de figuras mitológicas correndo na direção do fogo, seguindo a sombra umas das outras, unidas como massa fria, mergulhada em óleo quente. Uma imagem horrível; amaldiçoada pelo Medo. Isso mesmo... Falo do medo de te perder. Lembro-me que quando vi os deuses pularem do Monte Olimpo com suas taças cheias de sangue, derramei dor e veneno no chão. Urros e sussurros invadiram o ar, fazendo-me girar e tombar. Os deuses morreram afogados no próprio sangue, como cegos perdidos no oceano, com os pés e braços amarrados para trás. Deuses ateus são como agnósticos engolidos pela maré vazante. Foi aí que percebi que os deuses primeiro enlouquecem àqueles que eles querem seduzir. Por isso imagens horríveis atropelaram-me como carruagens de fogo. Senti vontade de correr, mas não pude dar sequer um passo, pois já estava morto. Decidi fechar os olhos e mergulhar num sono profundo. Retroceder no tempo até não mais poder voltar. Parar frente ao nada, e enfim, tentar te esquecer.
® A COVA DOS MALDITOS ™ © copyright by betto barquinn 2011
TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS BY BETTO BARQUINN
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Oi Bettão! Cara, sempre fico emocionado com os seus textos. Adorei “A Cova dos Malditos”. Você é um grande escritor, fera! Parabéns, meu Rei! Abraços!
ResponderExcluirBetto, você é o cara! Seus textos são um sucesso, meu irmão. Você merece o melhor, cara! Deus te abençoe. Abs!
ResponderExcluirMuito bom, Betto! Muito bom mesmo, meu Rei! I LOVE YOU!!!
ResponderExcluirBetto, quando você posta um novo texto é sempre essa correria... É um tal de um lugar para o outro, os amigos ficam em polvorosa para confabularem sobre o novo post de Betto Barquinn. O blog está bombando, meu Rei! Parabéns, Betto! Seus fãs te amam! Bjs!
ResponderExcluirApaixonante, Betto. O texto é lindo, o blog é lindo... Betto Barquinn é tudo de bom! Amei passar por aqui, lindão. Já te admiro a muito tempo, gato. E agora, sem sombra de dúvida, sou sua fã! Beijos, meu Rei! Beijos!!!
ResponderExcluirAmo os seus textos, querido! Parabéns, Betto. O blog é lindo!!! Bjs!
ResponderExcluirBetto, muito maneiro o seu blog! Você é muito estiloso, leke! Parabéns! Abs!
ResponderExcluirMuito legal o seu blog, Betto! Adorei o texto!!! Bjs!
ResponderExcluirVocê é um escritor formidável, fera! Sucesso, Betto! Obrigado por ser tão talentoso, Rei! Abraços!
ResponderExcluirLindo, Betto! Parabéns!!!
ResponderExcluirBetto, você é um cara tão sofisticado e estiloso, que os seus textos não poderiam ser diferentes. Tudo aqui é muito chic porque você é chic, gato. Betto Barquinn: Sofisticado até debaixo d'água! Muito chic, Betto! Bjs!
ResponderExcluirAmo os seus textos, Betto! Tudo aqui é muito lindo, amor! Beijos!!!
ResponderExcluirBetto Barquinn é o cara! Vida Longa ao Rei!!!
ResponderExcluirLendo os seus textos e conhecendo melhor o seu trabalho, torna-se impossível não te amar, querido. Barquinn é coisa de gente grande! Amo muito tudo isso!!! Parabéns, Barquinn! Parabéns!
ResponderExcluirBetto, você criou no blog uma obra de tamanho estilo que deixa a todos nós, seus leitores, encantados com tanto talento. Com certeza, o blog Betto Barquinn é um marco em literatura! Parabéns!
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