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Mostrando postagens de junho, 2011

ACORDA, AlICE!

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Ela arrancou-me os textículos com a boca, dizendo que fazia isso para o meu próprio bem. Raivosa, falou-me meia dúzia de desaforos, e saiu atropelando os carros, como quem fosse levar o pai à forca. E eu que sempre fui capaz de dizer coisas impublicáveis, permaneci caído ao chão, esperando o sangue estancar. Morto o velho homem, chegara o momento de deixar o novo homem nascer. E assim, aconteceu. Todavia, ao ver os meus textículos ali, dilacerados, tive medo de nunca mais fazer poesia. Porque Alice arrancara a minha alegria, com o sorriso entre os dente. Alice sempre dissera que eu falava coisas que ninguém queria ouvir. Afirmava que eu vivia num mundo cor de rosa, achando que todo mundo era bom. E quem é incapaz de ver o defeito dos outros, acaba caindo nas maiores ciladas. 'O mundo é mau, Juvenal!  – dizia. 'Agindo assim, vão lhe expremer até a última gota, feito uma laranja velha, e quando não restar suco algum, você vai parar na lixeira junto com a casca. S

AMOR, SUBLIME AMOR

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Catarina, a bem-aventurada, era filha de Bonif á cio, um abastado banqueiro que ficou rico ajudando os pobres. Desde a tenra inf â ncia, Kate, como era conhecida por todos, aprendera com seu pai, que ningu é m é feliz de verdade, se n ão é capaz de dividir com o outro, o melhor de si mesmo. Ao contr á rio da irm ã , Vicentina, mocetona f ú til e ego í sta, Kate doava os seus momentos de ó cio aos pobres. Ao inv é s de passar horas no shopping comprando coisas mortas, preferia viver de forma intemporal, doando-se ao outro. Levava na alma a çú car e afeto. Levava no cora ção toda a bagagem que o esp í rito precisa para fazer o outro feliz: Amor. Quando praticava o bem, sentia-se t ão abastecida, t ão iluminada, t ão cheia de gra ç a, que tinha certeza que recebera muito mais que doara. Pois ' amor é sentimento que sacia ' – dizia. ' Como é bom poder doar um sentimento! ' – exclamava. Caridade é algo t ão sublime, que quanto mais a gente ajuda, mais é ajudado

A COVA DOS MALDITOS

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No dia que me deixaste Medeia, voltei para o Hades, de onde jamais devia ter sa í do. Viver no mundo dos mortos, n ão é mais ou menos importante, que viver no mundo dos vivos. Mas demorei muito para perceber de que forma as coisas acontecem, querida. E no meu caso, tendo a liberdade ameassada, pareceu-me perigoso demais ousar dar o pr ó ximo passo. Preferi recuar, n ão por escolha ou convic ção , mas por medo. Sem teu amor, n ão sabia o que me esperava na pr ó xima esquina, Medeia. Sem ti querida, n ão pude arriscar o meu pesco ç o pelo enfadonho desejo de desvendar-te. Longe de ti amada, recuei mil passos sem conseguir reencontrar-te no tempo. Sem teu calor, uma centelha de loucura e vertigem, fez-me cair por terra. Logo eu, Jas ão , um homem t ão cheio de vida, sem ti estou morto. Longe de ti sou uma alma cheia de sentimentos vazios. Um her ó i à beira do abismo, sem saber se o melhor para mim é morrer, reivindicar o velocino de ouro ou viver fazendo de cada segundo, uma vis

O TEATRO DOS ESPÍRITOS

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Todos os anjos que encontrei pela estrada tinham as asas quebradas. E por algum estranho motivo n ão sentiam dor. Esbarrei pelo caminho com criaturas andr ó ginas, que andavam, falavam e emocionavam-se, de uma forma bastante incomum para mim. Homens e mulheres especiais, que podiam n ão saber porque estavam vivos, mas sabiam para que vieram. Esp í ritos milenares sacrificando a pr ó pria alma. Bruxas medievais matando a sede num Sabat secreto. Magos energizando-se com á gua fluidificada. Pessoas, sim. Pessoas, enfim. 'É o sinal  dos tempos ' – pensei. Naquele instante o sil ê ncio crudara à alma feito chiclete. Ao respirar profundamente, – conclu í: ' N ão sou um ser ó bvio por defini ção . Confesso ser um verdadeiro mist é rio, que propositalmente quer se passar, pela criatura mais comum desse mundo. E talvez por isso, curioso aos olhos, atencioso aos ouvidos, equilibrado à mente e fertil à alma, por excesso de atrativos incomensur á veis. Uma imagem constru í da