ACORDA, AlICE!
Ela arrancou-me os textículos com a boca, dizendo que fazia isso para o meu próprio bem. Raivosa, falou-me meia dúzia de desaforos, e saiu atropelando os carros, como quem fosse levar o pai à forca. E eu que sempre fui capaz de dizer coisas impublicáveis, permaneci caído ao chão, esperando o sangue estancar. Morto o velho homem, chegara o momento de deixar o novo homem nascer. E assim, aconteceu. Todavia, ao ver os meus textículos ali, dilacerados, tive medo de nunca mais fazer poesia. Porque Alice arrancara a minha alegria, com o sorriso entre os dente. Alice sempre dissera que eu falava coisas que ninguém queria ouvir. Afirmava que eu vivia num mundo cor de rosa, achando que todo mundo era bom. E quem é incapaz de ver o defeito dos outros, acaba caindo nas maiores ciladas. 'O mundo é mau, Juvenal! – dizia. 'Agindo assim, vão lhe expremer até a última gota, feito uma laranja velha, e quando não restar suco algum, você vai parar na lixeira junto com a casca. S