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GLAMUROSA

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Hoje é dia de baile funk aqui na favela. O Rio de Janeiro é assim: A gente tira a roupa e come ç a a dan ç ar! Quem é do samba, traz o pandeiro e a cuica. Quem é do forr ó , traz o tri â ngulo e a zabumba. Todo mundo adora e quem n ão dan ç a, chora. Glamurosa é aquele tipo de mulher que d á á gua na boca. Quando passa, a temperatura sobe. Quarenta graus à sombra! Mulher que tr á s dentro de si o calor do ver ão . O nome disso é fogo, – meu irm ão! O nome disso é encadescente vulc ão . Lavas que jorram, que v ão e que vem: mulher-p ão -de-a çú car, quem n ão gosta de doce nen é m ? Glamurosa é assim: Docinha, docinha. Gata, donzela, mulher-p ão -de-a çú car, nen é m! Nesse funk eu vou me esbaldar! Dan ç ar at é o sol raiar! Quero minha ' tchutchuca ' sorrindo para mim. Beijo na boca ? Quero, gata! Quero, sim! Glamurosa demais!: eu gosto é assim. Mulher que vem do asfalto e sobe o morro. Mulher que vem da favela, n ão existe mais bela: Papai, segura o cachorro...

VOCÊ PASSA, EU ACHO GRAÇA

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Tr ê s ET ' s de um planeta distante, foram chamados na sala do rei e mandados à Terra para conquist á -la. O primeiro foi parar na Ant á rtica. E voltou para casa horrorizado: ' A Terra é um planeta in ó spito! A Ant ár tica rodeia o P ó lo Sul e est á quase completamente coberta por enormes geleiras. O lugar é praticamente o mesmo a cem milh õ es de anos e o seu resfriamento se deu a trinta e cinco milh õ es dos mesmos. Um lugar horroroso! Venta demais, o solo tem uma espessura fin í ssima e a vela ilumina mais que o sol. Imposs í vel haver vida inteligente na Terra! N ão , meu rei. N ão podemos habitar a Terra. Aquele planeta é um “ pa í s de gelo ” . Morrer í amos de frio, fome, sede e t é dio! N ão h á outro rem é dio, na Terra n ão podemos ficar! '. O rei ouviu a tudo calado, esperando o segundo explorador da Terra voltar. Uma semana depois, l á estava ele, na presen ç a do rei: Meu rei, amoroso e bondoso rei, a Terra é assustadoramente quente! Senti-me al...

MEUS TEMPOS DE CRIANÇA

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Hoje acordei com medo. Medo de n ão ser convincente. Medo de n ão ser coerente. Medo de n ão ser comovente. Medo de n ão ser como gente. Medo de n ão ser gente ? Urgente! Urg ê ncia moral latente. Medo. Pessoa. Medo. Fernando Pessoa. Pessoa. Medo. Pessoa-medo. Falei, depois fiquei mudo. Ouvi, depois fiquei surdo. Quero passar a vida dentro do tempo, at é que o tempo passe, e s ó sobre vida dentro de mim. Quero amar e ser amado. Quero doar e ser doado. Meus tempos de crian ç a passaram e eu tamb é m passei. Passado estou. Passado sou. Tenho medo. Muito medo. Medo de envelhecer solit á rio. Medo de mulher e filhos n ão ter.  Medo de passar pela vida com ar de despedida. Medo de n ão durar mais que um segundo. Medo do submundo. Medo de ser vagabundo. Medo do lado sujo do mundo. Medo. ® MEUS TEMPOS DE CRIAN Ç A ™   © copyright by betto barquinn 2011 TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS BY BETTO BARQUINN

VINGANÇA

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Hoje o telefone tocou e algu é m do outro lado da linha me recitou poesia. Falou-me de Clarice Lispector, de Carlos Drummond de Andrade, de T.S. Eliot. Depois passou para Shakespeare, Fernando Pessoa e Ferreira Gullar. Hoje o telefone tocou. Fazia mil e duzentos dias que n ão tocava. E eu ali, parado, esperando o telefone tocar. Lembrei-me de Manuel Bandeira e de Friedrich Schiller. Recordei-me de Olavo Bilac e de Gon ç alves Dias. E do outro lado da linha, aquela voz ofegante, me recitava poesia. Contou-me sobre M á rio Quintana. Apresentou-me a poesia simbolista de Jean-Nicolas Arthur Rimbaud. Presenteou-me com Lya Luft. Deliciou-me com Filippo Tommaso Marinetti. Ouvi mais L ê do Ivo e Bash ô  Matsuo. Mas o que me encantou foi ler Li Po. Conheci Dante Alighieri.  Apaixonei-me por Dostoi é vski e Nietzsche.  Aprendi a amar Pablo Neruda. Descobri Ascenso Ferreira, que eu amo tanto. Mas n ão me esque ç o de: Johann Wolfgang von Goethe. Fiquei perplexo ao esc...

ESTOU COM RAIVA DE VOCÊ

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As ruas de Manhattan n ão mais foram as mesmas, desde aquele que voc ê se foi. A Broadway virou Off-Broadway. E o espet á culo mais caro tinha voc ê no recheio. Envelheci seiscentos anos desde aquele que voc ê se foi. Devo ter voltado uns mil e duzentos passos na minha evolu ção . Tornei-me arredio. Tornei-me prolixo. Tornei-me vazio. Eram sacos e mais sacos de confete para que eu pudesse ocupar a mente e tentar lhe esquecer. Contei um a um, confete a confete, mas n ão consegui lhe esquecer. A dor que me invade o peito e a alma... A dor que me invande a calma... A dor que me surra aos peda ç os, em trapos, farrapos, dez peda ç os, despeda ç o ; mas n ão morro. Quero sair da Ilha. Lost. Vou-me embora de Manhattan. Quero descobrir o para í so  onde n ão haja voc ê: Numa lata de sardinha. Numa sopa Campbell. Na aba do meu chap é u. Sei l á ... Quero viver minha lua-de-mel onde n ão haja voc ê . Quero o nome do santo. O santo nome do veneno. Por isso me algemo, corro, falho, ...

TODA FORMA DE AMOR

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N ão sou a favor da viol ê ncia. N ão sou a favor da dem ê ncia. N ão sou a favor da indec ê ncia. N ão , n ão . Sou a favor do amor, seja ele qual for. Se querem casar, que casem. Se querem namorar, que namorem. Se querem ter filhos, que tenham. E se n ão puderem ter, que adotem. Porque acredito no amor, seja ele qual for. Acredito que o que Deus uniu ningu é m separa. Acredito na inoc ê ncia. Acredito na paci ê ncia. Acredito na benevol ê ncia. Sou a favor do amor, seja ele qual for. ® TODA FORMA DE AMOR™   © copyright by betto barquinn 2011 TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS BY BETTO BARQUINN

SENTINELA

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Ela caiu da escada com a alma à mostra. Tinha os dedos rasos d ' á gua e na fronte o s í mbolo da paz. O medo n ão a incomodava mais. O medo n ão a incomodava mais que o medo. Rasgou o peito com um prego. Depois correu para perto do port ão . Quis sair, mas n ão saiu. Quis gritar, mas n ão gritou. O sentinela poderia v ê -la. O vendedor de carrapatos poderia atac á -la. Era o dia do absurdo. Aquele que bate-nos à porta toda vez que tentamos ser o que n ão somos. N ão era dia de m á scaras. Mas usou. N ão era dia de falar. Mas falou. Ela caiu da escada por algum motivo. Ningu é m tem a alma exposta à toa. Decidiu cantar alguma coisa. N ão lembrou-se de nada. Ent ão ficou parada no port ão esperando o sentinela dormir. Ficou ali umas duas horas contando estrelas. Quando estava perto da meia-noite... Quando estava perto do meio-dia... Quando estava perto da rua, correu. Correu tanto que podia ter dado a volta ao mundo. Correu tanto que se trope ç asse, cairia morta. Corr...