PERSIAN MARCH
Tale of One Thousand and One Nights:
Avicena era um homem açucarado. Méleo como a poesia de Rudaki. Havia nele uma busca intrínseca, que cortava-o
ao meio, atravessando-lhe o espírito e moldando-o como quem é moldado ao barro, depois soprado, assado e seco como a qasida de Naser-e Josrow. Do lado de fora era de uma delicadeza de dar nó em pingo
d’água. Franzino, frágil, desolador. Por dentro era um rio de águas
cristalinas: ou melhor, um oceano sem fim. Às vezes acontece isso no mundo.
Nascem pessoas formidáveis, que trazem em si, a sabedoria dos panegíricos de Anvari. Ele era
assim. Infinitamente vasto, sensível, conhecedor do belo, do bom, do
verdadeiro. Se tivesse nascido rico, certamente seria um rei, uma figura
ilustre, um livre pensador. Nasceu pobre, mas o peso do mundo (aquele que
arqueia a alma dos langorosos) não era um fardo para ele. Para alguém assim, que enxerga aquilo que
ninguém vê, chegar ao sucesso é uma questão de tempo. Mesmo com as dificuldades
que encontrou, era um espírito advindo de outras vidas, e isso dava-lhe uma
bagagem infinda. E foi o que possibilitou-lhe crescer e multiplicar como um ruba'i de Omar Khayyam. Com muito
esforço chegou à faculdade, formou-se médico, clinicou, especializou-se e tornou-se cirurgião vascular. Uma proeza em tanto para quem passou por tudo aquilo que
ninguém em sã consciência gostaria de passar. Contudo a maior vitória deste
homem não foi sair da pobreza. Foi nunca ter deixado de ser quem é. Para ele, perder ou ganhar, era o pó da estrada: como tudo que vem da matéria. O verdadeiro tesouro, aquele que acompanha o ser humano eternamente, levava nos adentros de sua alma. No lugar, aliás, onde todas as coisas boas
devem viver. Em substância, Avicena era um homem bom, como tudo aquilo que vem de Deus.
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