GATO EM TETO DE ZINCO QUENTE
"Sê plural como o universo!"
Fernando Pessoa (1888-1935)
Acordei em meio a versão trash do Sorriso do Gato de Alice - No País das Maravilhas. E fiquei noites e noites sem dormir. Acabara de ter um sonho mau que retratava o Brasil. Um pedaço do mundo apoiado numa prancha de isopor. O lugar que eu amo, mas que não compreendo. Quinhentos anos depois, no que nos transformamos?
Abrem-se litros de champagne para festejar a Era de Aguários. E se enganam ao achar que carma é uma questão de ponto de vista. Aqui nada se faz e o povo é que paga o pato. Prefiro dizer: Cuide do Brasil. E se achar impossível: Insista! Não faltará um pouco de terra para um homem de bem cultivar. Derribando a desordem nacional num flash back moral. Afinal, na vida só não dá certo aquilo que não se faz com verdade. Mas o tal referido sorriso, não era do Gato. Nem de Alice. Era dos Donos da Nação. Fervilhando com o grito da sua própria sombra. Rindo daquilo que é sério, que comove, e que é real. Não era um país. Mas um pesadelo em cromakey. Pessoas como eu e você, que respiram e têm sentimentos. Que pensam e são humilhadas. Que choram e são caladas pela censura. Como negar que o Brasil está entregue às baratas, se eu não consigo virar para o lado sem dar de cara com toda essa sujeira? Pessoas são pessoas. E pessoas têm coração. Quinhentos anos depois, quem somos?
Então, pensei em mim. Do quanto tive que brigar para não ter a boca calada à bala. Provocador insone, aprendi a declamar poesia com a boca costurada entre os dentes. Alinhavada numa colcha de palavras, ditas, subversivas. Aprendi a ler nas entrelinhas com os olhos colados à sola de sapatos. Cegado à pisadas. Remela da alma. Lágrimas de chuva. Dégradé social. Triste ditadura-democrata. Ré na vida. O espírito tocado em braile por dedos surdos. Sujos de raiva, sim senhor! Moco ouvir do manifesto da antropofagia, cujos tímpanos engolidos pelo silêncio, morrem pontuados pela ausência de si mesmos. Por fim, a cegueira tardia, de quem teve os olhos furados à faca; prematuramente. Marcos revolucionários aprefeiçoados abrangentes, estabelecendo a regra do jogo capitalista, que faz do humanismo ideológico um amargor à fervilhar à alma, atento ao âmago do ser à globalização dos sentidos. E a isso, que me perdoem os coronéis estupradores do espírito humano, chamo de censura ditatorial assumida. É uma piada de mau gosto, um país de pão e circo, politicagem e roubalheira, ter seu humor censurado justamente por aqueles que fazem de nós, brasileiros, uns palhaços. Eu luto por aquilo que acredito e vou lutar até morrer pelo Brasil. Alea iacta est! Os dados estão lançados! Façam suas apostas, ilustres perdedores! Voto porque é obrigatório. Se fosse facultativo, votá-lo-ia! A política no Brasil é mesmo uma piada... Que candidatos são esses que se nos apresentam?! Pior do que jogar pérolas aos porcos, seria desperdiçar o voto com qualquer um deles. Mas votar em branco ou anular o voto seria matar a democracia. Então, nós eleitores, temos que pesquisar e exercitar o pensamento. Quem vende o seu voto ou vota errado, torna-se uma pedra no meio do caminho. Por isso eu voto pelo voto consciente. Mas parece que os maus tempos voltaram... Silenciosamente. A nova ordem mundial fala em capital humano, como se fôssemos moeda fiduciária. Os políticos antes de serem políticos são pessoas. O problema é quando eles se tornam políticos. O Brasil dos maus políticos é um pasto ou é um feudo? Em época de eleição é que a porca torce o rabo... Mas não me calo nem que a vaca tussa! Só falo o que vejo e só digo o que sinto. Sou contra qualquer tipo de órgão regulador de idéias, maculando a verdade e impedindo a liberdade de expressão. Busco alianças amplas e irrestritas como marcas de solidariedade indeléveis, da celebração da vida para a celebração da memória. Embora pareça barato, podem guardar o cartão de crédito, coronéis! Minh'alma não está à venda! Divide-se a célula, e a sela, e a cédula, e a cela; que assela, mas não se divide o coração do homem. A invisibilidade social, sem dimensões pessoais afetivas, faz do indivíduo uma não pessoa real. A vida não é só essa humilhação que se vê. É também aquilo que se sente. Aonde os outros enxergam o lixo, eu vejo o paraíso. Acostumei-me a passar pelas piores coisas sozinho. Então agora, quando as pessoas tentam me ajudar, aceito. Reajo a atos injustos, porque vivi isso. Só os fortes conseguem rir das suas desgraças. Aquilo que não sinto, minh'alma desconhece.
Pensei nas noites em que abracei a insônia e a chamei de amiga. Do enjôo que me invade com golpes de vômito. E da vergonha de ter que admitir: No Brasil alguns vivem. Outros apenas morrem. A cada segundo vinte e três milhões de reais vão parar nos cofres do governo em forma de impostos. Admirável Gado Novo? Povo feliz? O brasileiro tem preconceito de ser brasileiro. Temos que compreender que a forma que nos relacionamos com nós mesmos, com o outro e com a natureza, é absolutamente insustentável. Quinhentos anos depois, cadê a liberdade de expressão? Pensei nisso, para não dizer que não falei das flores.
Petit gâteau. Meu pêlo de Gato ferve como água no fogo. Enquanto quem faz apologia aos direitos humanos, vai parar na geladeira. Porque pensar é um crime inafiançável na mente dos covardes. Sinto e não minto. Arranho. Ataco. Lambendo a verdade. Afiando as garras no asfalto-social. Comendo palavras! O brasileiro não pode fazer na urna o que faz na privada. Como àquele que faz “caca”, depois enterra. Cidadão Gato. O zinco quente assando-lhe às patas. E de pé, percebe que todos ao seu redor andam de quatro, para não ver que a cara do Brasil é feia. Suja. E passa fome. Não quero fazer parte das estatísticas. Viver é ocupar o espaço oculto no desequilíbrio adefágico. Não vou me cegar com os tolos, fingindo não ver à afortunados desdentados, mendigando macaxeira e roendo jerimum com cactácea. Homens e mulheres com a boca cheia de barata, dos lábios ao céu, descensionalmente garganta à dentro. O ser humano diante do imponderável. Porque gente com eu e você, está à beira do abismo com os filhos nos braços. E sem forças para pedir socorro. Não sou objeto. Sou brasileiro! As dobras da minha alma vestem a minha dor. Porque venho debaixo do barro do chão. Os problemas de uma forma ou de outra sempre vão existir. O que precisa mudar é o nosso comportamento em relação a solução do problema. Quinhentos anos depois, o País do Futuro, não tem um pingo de educação.
Cat on a Hot Tin Roof. Em Teto de Zinco Quente, miei e chorei. É mais fácil andar na periferia sem saber para onde ir, do que ver a lágrima no rosto de nossas mães. Mães desnutridas no esquecimento. Amamentando à crianças condenadas ao abandono. Dando aos filhos o analfabetismo como herança. Para que cresçam honrando a miséria. Perdendo a vida num pácto que nunca foi celado. Sendo uma piada. E se perguntarem o que é ser minoria, ouvirão como resposta: NADA.
Quinhentos anos depois, o que esperar dos filhos da nação, se eles só conhecem a tristeza em potes de água com farinha? E eles mesmos responderão: NADA.
Presidentes do Brasil: 1889 - 1891 - Marechal Manuel Deodoro da Fonseca (Marechal Deodoro da Fonseca). 1891 - 1894 - Marechal Floriano Vieira Peixoto (Marechal Floriano Peixoto). 1894 - 1898 - Prudente José de Morais Barros (Prudente de Morais). 1898 - 1902 - Manuel Ferraz de Campos Sales (Campos Sales). 1902 - 1906 - Francisco de Paula Rodrigues Alves (Rodrigues Alves). 1906 - 1909 - Afonso Augusto Moreira Penna (Afonso Penna). 1909 - 1910 - Nilo Peçanha (Nilo Peçanha). 1910 - 1914 - Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca (Marechal Hermes da Fonseca). 1914 - 1918 - Wenceslau Brás Pereira Gomes (Wenceslau Brás). 1918 - 1919 - Delfim Moreira da Costa Ribeiro (Delfim Moreira). 1919 - 1922 - Epitácio da Silva Pessoa (Epitácio Pessoa). 1922 - 1926 - Authur da Silva Bernardes (Arthur Bernardes). 1926 - 1930 - Washington Luís Pereira de Sousa (Washington Luís). 1930 - Junta governativa: General Tasso Fragoso, General João de Deus Mena Barreto e Almirante Isaías de Noronha. 1930 - 1945 - Getúlio Dorneles Vargas (Getúlio Vargas). 1946 - 1951 - General Eurico Gaspar Dutra (Dutra). 1951 - 1954 - Getúlio Dorneles Vargas (Getúlio Vargas). 1954 - 1955 - João Café Filho (Café Filho). 1956 - 1961 - Juscelino Kubitschek de Oliveira (Juscelino Kubitschek - JK). 1961 - 1961 - Jânio da Silva Quadros (Jânio Quadros). 1961 - 1964 - João Belchior Marques Goulart (João Goulart - Jango). 1964 - 1967 - Marechal Humberto de Alencar Castello Branco (Marechal Castello Branco). 1967 - 1969 - Marechal Arthur da Costa e Silva (Marechal Costa e Silva). 1969 - 1974 - General Emílio Garrastazu Médici (General Médici). 1974 - 1979 - General Ernesto Geisel (General Ernesto Geisel). 1979 - 1985 - General João Baptista de Oliveira Figueiredo (General Figueiredo). 1985 - 1990 - José Sarney (Sarney). 1990 - 1992 - Fernando Afonso Collor de Melo (Fernando Collor). 1992 - 1995 - Itamar Augusto Cautiero Franco (Itamar Franco). 1995 - 2002 - Fernando Henrique Cardoso (Fernando Henrique Cardoso - FHC). 2003 - 2010 - Luiz Inácio Lula da Silva (Lula). 2011- 2014 - Dilma Rousseff. E o Zé Ninguém, onde fica nisso tudo?
Nessa Terra de Ninguém, o último a morrer que conte ao vivos a sua história. Ou morra, sem saber como é a vida longe de tanto sofrimento. Margens Plácidas ou Plásticas? Um arquipélago de pessoas encerradas numa ilha solitária. Id. Ego. Super Ego. O brasileiro não é senhor nem mesmo da própria sombra. Isso tudo para dizer que a sociedade atual investe na exclusão, para que os excluídos sejam todos iguais. Falo em nome de todos os que se foram, amados e idolatrados, salve! salve!, Filhos do Brasil.
Mostre-me um pouco de Ordem, que escreverei na sua bandeira onde está o Progresso. Quinhentos anos depois, e aí?
Para que serve um político, eu não sei. Mas se votares em mim, depois te conto.
“Eu sou apenas um rapaz Latino-Americano...”
E vós suncê, quem é, hein?!
Quem é vós suncê?
“Eu sou apenas um rapaz Latino-Americano...”
E vós suncê, quem é, hein?!
Quem é vós suncê?
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GATO EM TETO DE ZINCO QUENTE© copyright by betto barquinn 2010
TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS BY BETTO BARQUINN
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Meu caro, esse seu texto é tudo de bom. Aliás, TUDO com Betto Barquinn é bom! Amo você, meu querido. Beijos, da sua, Amanda Rocha.
ResponderExcluirQue bom que existem artistas como vc no Brasil! Amei, Betto!!! AMEI!
ResponderExcluirMagnífico, inteligente e estiloso como sempre! Parabéns!
ResponderExcluirOi Betto! Tudo bem?! Sempre fico muito feliz quando venho ao seu blog. Seus textos e o layout do seu blog tem qualidades internacionais. Você consegue unir bom gosto, sofisticação e estilo ao seu texto que é sempre impecável, como tudo que você faz. Adorei esse seu conto novo. “Gato em Teto de Zinco Quente” é uma preciosidade! Nesse ano de eleição e em todos os dias de nossas vidas, precisamos estar atentos ao destino do nosso país. É relamente um orgulho para qualquer brasileiro ter um artista como você vivendo no Brasil. Parabéns!
ResponderExcluirEsse texto é tudo! Beijos!
ResponderExcluirSeu talento devia ser engarrafado e destribuido ao mundo, querido! Amei esse conto! Bjs!
ResponderExcluirMuito bom o seu trabalho, Betto. Deus te abençoe!
ResponderExcluirVc fala a verdade o tempo todo. Adorei!
ResponderExcluirLindo texto, Betto. Parabéns!
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