BESIDE YOU
Minha vida não cabe em uma quitinete:
Descia
eu a estrada de meus dias, pensando em coisas que se nomináveis são, inqualificáveis
manifestam-se em mim. Era um rio sem nascente. Um certo estar de coisas
recorrente. A mão do mundo, ou melhor, a mão que move o mundo: arrastando-me
como a este rio que citei, esse que não tem nascente, para algum lugar que
certamente sei que não verei de novo.
Tem
coisa em mim indecifrável. Há um marasmo que torna-se alegria. Às vezes,
covardia. Por vez, aflição. Há algum tempo houve uma vaga volumosa em mim.
Agora, não. Hoje sou como um riacho, que sem saber-se regato, deixa a água
passar. Tem hora que me pergunto se sou esse que desce a estrada de seus dias
sem saber para onde ir. Porque a vida toma rumo que nem sempre é o que
queremos. Ser.
Ontem
mesmo: estava eu a buscar o sentido essencial, e revendo meus feitos e inconclusos,
percebi a pouca importância que têm as minhas atitudes. Sempre achei relevância
em tudo que a mim me é importante. Depois de algum tempo vivido, e ao largo de
minha caminhada, descobri que do essencial que trago nos adentros de minh'alma,
o que é verdadeiramente importante brota do amor. O amor que sinto por mim
deságua no amor que sinto por ti. O meu amor é como esse rio que caminha dentro
e fora de si mesmo, sem saber-se arroio ou ribeiro ou flume ou embrião. Olho-d'água. Um
rio-lago. Um rio-largo. O rio-mar. Por amor, logo eu que sinto-me velho demais
para sentir arrepio, encrespo-me do fio do cabelo ao pó do osso quando vejo-te. Revejo-te.
Sou um
velho-jovem. Sou um homem sem idade. Surpreendo-me com coisas, que ninguém de
minha época, hoje, se surpreenderia. Emociono-me com o pôr do sol, como se este
que avisto à minha frente, fosse o meu primeiro nascer da lua. Trago em mim vida crua. Nua em si e de si. Talvez eu seja a charge de mim mesmo. Há uma
reprodução de mim que se humaniza em mim. Um “eu” bem-humorado que ri das
coisas que faz, e da incapacidade de fazer e ser, o oposto do que é. Sou o avesso do avesso de mim. Há dia que acordo homem. Em outro, espantalho. Já assustei muito corvo
de milharal, sabe. Já vi pastagem no campo. Já fui bem mais do que sou.
Certa
vez divisei um homem de um farol na boca do oceano. Observei-o adentrar ao
mar. E horas a fio ficou lá parado para não mais voltar. Não sei o que foi
feito daquele homem. Só sei que do alto de minha miopia, percebi que ele tinha
o meu rosto. Era eu o homem ao mar? Quem era aquele náufrago que carregava em
si a identidade de minha face? Será que ele tinha o meu nome? Será que sabia
qual é o meu sobrenome? Ou ao menos atinava que era um substantivo? Por que
entrou no mar? Qual a alcunha daquele homem? Tu sabes? Sei, não.
Quanto
mais vivo, menos sei. Quanto mais aprendo, menos apreendo. Ou talvez saiba
demais… e por uma modéstia imodesta,
negue que sei o que sei. Pois quando me perguntas o que sei, respondo-te que
nada sei. Sim, eu me acho ignorante. Mas por me achar, não me deparo.
Procuro-me e não me acho. Quando sou, nada sou. Quando estou, não me encontro.
Saí.
Ignoro
porque o mundo foi criado. Não sei o que acontece quando alguém parte deste
mundo. Para onde vai? O que é feito do sujeito? Morte é coisa que respeito.
Respeito a vida também. Por isso desço a estrada de meus dias com cautela.
Porquanto não quero machucar nem a mim nem a ninguém. Não nasci para ser torturado: nem torturador.
Chega um
momento na vida em que a pessoa humana é obrigada a encontrar-se consigo mesma.
Por isso, já que o amor não é biológico, e sim moral, por amor a ti, encontrei-me
comigo.
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copyright by Carlos Alberto Pereira dos Santos 2015
TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS BY CARLOS ALBERTO PEREIRA DOS SANTOS
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Tudo aqui é belo, começando pelo escritor. Lindo, lindo, lindo!
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