CANÇÃO DA MEIA-NOITE


“The Waltons”:

 Você é feliz?

  Feliz, feliz; feliz eu não sou. Sou resignado. Enquanto houver sofrimento no mundo não serei feliz. A minha felicidade depende do outro. Do bem-estar do outro. Pessoas morrem por motivos banais, sabe. Há muita dor. Muito sofrimento. Não posso ser feliz desse jeito. Não consigo. Há dia que acordo bem; alegre; sorriente. Há vez que amanheço cantando… Então tenho consciência do quão subjetivo é pensar essa tal “felicidade”. Vivo momentos felizes. Sou feliz quando vejo uma criança brincando. Sinto-me bem quando tudo vai bem: família, trabalho, amigos. Mas há o mundo lá fora, entende. E o mundo vai mal. Há o terrorismo. Há o racismo. Há o preconceito sem igual. Parece que quanto mais o tempo passa, mais as pessoas ficam arredias. Desconhecem o diferente. Repuduam o seu igual. Não. Eu não sou feliz. Gostaria de ser feliz como acho que os pássaros o são. Gostaria de ter asas. Gostaria de saber voar.

  E o que você faz enquanto a felicidade não vem?

  Vivo. Viver para mim é um bem. Respeito a vida, me dou, me doou, gosto de ser cuidado e gosto de cuidar. Esta talvez seja a verdadeira felicidade. Dar-se. Doar-se.

  Gostaria de me dizer mais alguma coisa?

  Sim. Seja feliz!

***

Um outro final possível

  Gostaria de me dizer mais alguma coisa?

  Sim. Gostaria de lhe fazer uma pergunta. 

Você é feliz?


***

PS.: Fica o final à escolha do freguês. Isto é, ao leitor, o que melhor lhe aprouver.

***

— Boa noite, Mary Ellen.

— Boa noite, John Boy.

FIM


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