DOMINGO



Ainda a pouco, enquanto organizava minha agenda da semana, dei-me conta que nos dias que correm não temos tempo para nada. São horas e horas dedicadas a cumprir tarefas, onde acordamos cedo, saímos de casa, debruçamos em minutos intermináveis de afazeres hercúleos, corremos para outro compromisso, chegamos em casa tarde; e se nos sobra tempo, é para tomar banho, comer e dormir: para no dia seguinte começar tudo de novo.

É uma vida de orate essa biografia que escrevemos. Tudo em nome de alguns trocados a mais no bolso, ou de uma poupancinha para a velhice, ou de um carro novo na garagem, ou do smartphone da moda, ou da viagem dos sonhos: ou até que apareça um motivo qualquer que sirva de pretexto para gastar o dinheiro. Isso se vivermos duzentos anos, é claro. Tem gente que trabalha como se existir fosse um reconto. Anula-se do mundo, esquece da família, e fica uma eternidade no escritório: produzindo, recriando, reinventando. Eu sou assim… e você?  

Em ocasião precedente a esta, enquanto organizava meu canhenho, vi-me como um pedinte sentado em uma canastra de ouro, sem saber que aquele era seu tesouro. Mendicante este, que passou a vida suplicando, sem perceber que era só abrir a arca e retirar dali o amparo. Este pensamento fez-me lembrar de uma amiga estremecida. Sempre que falamos ao telefone, afirmamos: Ver-nos-emos semana que vem! Ou para um chá, um cinema, uma vernissage, uma partida de bridge. Então os dias passam e esquecemos de marcar nosso encontro. Ela sempre reclama de vivermos tão distantes, mesmo morando a dois quarterões uma da outra. Por isso corremos ao telefone toda vez que sentimos saudades. Quiçá seja porque o aparelho inventado por Antonio Meucci está ao alcance das mãos: e nossos corpos, não. Destarte, pergunto-lhe: a quanto tempo você não vê seus amigos? Onde estão aqueles que fizeram parte da sua juventude? Certamente casados ou separados ou viúvos. O tempo passa tão rápido que quando a gente vê já está com o pé na ancianidade. E tudo aquilo que fomos passa a fazer parte da vida de outra pessoa. Pois no fundo (e no raso) todo mundo é igual. Vive as mesmas coisas tem as mesmas alegrias e decepções. O que me leva a crer, o aprisionamento e a catarse são lados da mesma moeda.   

Logo, já que estou pondo em ordem minha semana inglesa, vou buscar um sazão para estar com os amigos, levar o cachorro para passear, almoçar com a família, tomar um sorvete, caminhar no parque, e matricular-me em uma academia, por que estou precisando. Sempre há tempo para dizer eu te amo, mandar flores, sorrir para a vida, ler uma crônica, plantar uma árvore, ter um filho, escrever um livro. Por ora, vou ligar para aquela amiga que amo tanto, e convida-la-ei para sair. Disseram-me que “Magia ao Luar”, do Woody Allen, é ótimo. Por que não faz o mesmo? Aproveita, hoje é domingo!       


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