TODO MUNDO AMA O ANO NOVO!
Era véspera de Ano
Novo e todo mundo estava na expectativa do que viria após a queima de fogos. O
reino de Iemanjá estava em festa. E os súditos traziam-lhe palmas na
palma das mãos. A chegada do Ano Novo sempre representa esperanças em bolhas
espumantes. Casa nova. Vida nova. A chegada de um novo amor com cheiro de carro
novo. Um novo ano é cheio de perguntas e poucas respostas. Pois
seja o que for que se projete, se dará com o passar do tempo. Só o
futuro dirá… Por isso é preciso trabalhar muito, acreditar
muito, ter muita fé, amar demais, e deixar o barco correr rumo ao mar do
desconhecido — repleto de oferendas para Iemanjá. Um novo
ano é sempre um recomeço. Deve ser por isso que as pessoas vestem o
branco da paz, o vermelho da paixão, o verde da esperança e o amarelo da
fortuna. Cada cor representa um desejo. Cada desejo representa uma cor. Mas
sabemos que a felicidade não nasce em garrafa. Na vida nada acontece como
um passe de mágica. A mesma fé que nos ensina a acreditar é aquela
que nos aconselha a correr atrás dos nossos sonhos. Para
tal, é preciso encarar o presente como uma liturgia. Passar uma
borracha no passado. Ter a grandeza de saber perdoar e caminhar para o futuro
como quem caminha para o sacerdócio de uma vida cheia de altos e baixos. Posto
isto, caminhemos para o segundo parágrafo.
Este ano decidimos que iríamos romper o ano (no bom sentido, é claro!) em Copacabana. Havíamos discutido como seria a nossa aventura em exaustivas reuniões familiares. Morar em Madureira é muito bom, mas dá um trabalho sair daqui… Copacabana é longe. Os ônibus sempre cheios nessa época do ano… Daí é preciso caminhar até a Estação Madureira (isso leva em torno de dez minutos), depois pegar o Japeri-Central (direto); que é o trem que vai em direção à Estação Central do Brasil. Isso leva mais ou menos vinte e dois minutos, parando em quatro estações. Chegando à Central do Brasil é preciso pegar o Metrô até a Estação Cardeal Arcoverde. Da Central do Brasil até Copacabana de Metrô leva-se mais ou menos dezenove minutos em doze paradas. E para chegar à praia gasta-se em torno de oito minutos de caminhada a pé. Ufa! Haja disposição para tamanha empreitada! E isso carregando uma infinidade de sacolas, garrafão de vinho Sangue de Boi, muita cerveja, refrigerante, água, suco, dez caixas de isopor pesadíssimas, oito cadeiras de praia, cinco guarda-sóis, treze toalhas de praia, um conjunto com quatro cadeiras de plástico, mesa e ombrellone, barraca de camping, piscina de 3000 litros para as crianças se refrescarem, carvão e carne para o churrasco (que esse não pode faltar em dia de Ano Novo!), muito Tupperware abarrotado de guloseimas, mais sacolas e uma infinidade de coisas que davam um trabalhão só de pensar em carregá-las. E ainda tínhamos que economizar algum dinheiro, afinal o ano começa cheio de contas para pagar. E como todo filho de pobre; detesto desperdício! Então colocando tudo na ponta do lápis, percebemos que deveríamos gastar o mínimo possível em Copacabana, pois não podíamos fazer nada que prejudicasse a nossa renda doméstica. Daí a necessidade de levar tudo que pudéssemos carregar à praia. A ordem do dia era não gastar o nosso suado dinheirinho nem com um mísero picolé. Então tivemos a ideia de levar um isopor de sacolé: era sacolé de coco, de manga, de limão, de brigadeiro, de graviola, de laranja, de caipirinha, de milho-verde, de vinho tinto… A galera iria fazer a festa! Tinha sacolé para todos os gostos... Muito bom! Falando em coisas gostosas, mamãe havia preparado seu tradicional frango com farofa ao molho de azeite de dendê. Delicioso! Mas se era fato que o frango iria à praia conosco, isso também significava que teríamos que carregar mais duas ou três sacolas. Mas como o Réveillon em Copacabana é o maior espetáculo da Terra — valia a pena todo esse sacrifício. E você pensa que acabou?! Não… acabou, nada. Ainda tínhamos que pensar como levaríamos o Cícero, nosso cachorro, à praia. Porque mamãe recusou-se a ir conosco sem levar o Cícero. Então tivemos que arrumar uma bolsa de viagem (sorte nossa que ele é um vira-lata de porte médio) e escondê-lo ali a viagem inteira, para que ninguém da SuperVia ou do Metrô, percebesse que entre aquelas inúmeras bolsas, sacolas, isopor e outros tantos, tinha um cão escondidinho. Combinamos com o Cícero que não se mexesse sob nenhum pretexto. Latir, nem pensar!!! Sendo assim, já que além do frango com farofa, o Cícero também ia com a gente, tivemos que carregar mais sacolas, pois havia a bola do Cícero, a ração do Cícero, a vasilha de água do Cícero, a camiseta do Flamengo que o Cícero usa em dia de festa, a colheira da "Turma da Mônica" que o Cícero adora, o osso de couro de boi do Cícero, a roupa de cama do Cícero… Enfim, levar o Cícero daria um trabalhão, até porque é proibido levar cachorro à praia. Então se conseguíssemos passar com o Cícero pelo trem, depois pelo metrô, ainda tínhamos que camuflá-lo entre as nossas coisas na praia. Melhor seria deixá-lo em casa. Mas sem o Cícero, mamãe não ia! Caramba Cícero, porque você não nasceu gente?! Afinal, mesmo sendo gente como a gente, você ainda é um cão. Vamos para Copa então!
Quando faltava cinco minutos para a passagem do ano, nos abraçamos; felizes por estarmos todos ali com saúde, com paz e amor no coração, e forças para começar o ano com o pé direito. Abrimos o nosso espumante e finalmente brindamos ao amor e a paz entre os homens. Pulamos às sete ondas com o pé direito, colocamos oferendas para os Orixás, jogamos moedas dentro da barraca de camping para atrair sorte e fortuna, demos três pulinhos com uma taça de champanhe na mão (sem derramar uma gota!), trepamos nas cadeiras com o pé direito para subirmos na vida, fizemos muito barulho para afugentar os maus espíritos, acendemos velas e jogamos flores ao mar para Iemanjá, comemos lentilha e carne de porco, guardamos sete sementes de romã na carteira junto com três sementes de uva, colocamos uma nota de dinheiro dentro do sapato, vestimos nossas roupas brancas, usamos roupas íntimas novas, estendemos lençóis coloridos na areia, guardamos um lenço amarelo no bolso para atrair dinheiro, e ainda nos entupimos de nozes, avelãs, castanhas e tâmaras para trazer mais sorte ainda. Haja simpatia!
O ano novo chegou ao som do samba enredo das Escolas de Samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro. Fogos de artifício, show de luzes, boa música… O cenário perfeito para quem está em busca da felicidade. Felicidade, sim! Amor, sim! Dinheiro no bolso, sim! E paz!!! Muita paz!!! Ah, o que foi feito do Cícero?! Está aqui ó… Fala oi, Cícero! — Au-au!
Não sei se a história foi bem assim, mas acho que sim. Afinal, se fui eu quem escreveu, foi assim que aconteceu. E já que chegamos ao final do ano, então… 10, 9, 8, 7, 6, 5,4,3,2,1!!!
FELIZ ANO NOVO!!!
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Oi lindão! Adorei o texto de Ano Novo! Só você mesmo para escrever um texto tão distante da sua realidade, e ao mesmo tempo, igual a todo mundo. Muito linda essa sua capacidade de descrever os sentimentos do ser humano. Fiquei realmente encantada! Parabéns, amado! E aproveitando o ensejo, gostaria de desejar a você um Ano Novo cheio de felicidades! Ah! Estamos aqui em casa esperando você para a nossa festa de Reveillon. Chega logo! Beijos!!!
ResponderExcluirMuito bom!
ResponderExcluirParabéns, querido! Texto lindo! Bjs!
ResponderExcluirSó um homem tão generoso, poderia escrever algo tão revigorante! Amo os seus textos, Bettito! Amo!!!
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