QUEER AS FOLK
Voyeurs Lounge.
Fake plastic trees.
Toca o telefone...
Alô...
Eu tive que dizer que ia. Tive que saber que esquecia. Tive que endurecer para acordar no dia seguinte. Sim, eu já tive vinte, já tive acinte, já tive muita coisa que não quis ouvir. Já levei porrada, já tive a cara desfigurada, já peguei papel na ventania, já fui vadia. É... eu não sou cachorra, mas adoro uma cachorrada! Sou gatinha, frescurinha, baladeira e da night. Sou do tipo de mulher que sabe que o que é do homem o bicho não come. Pode tentar me derrubar, entre os meus amigos me desafiar, pode até dar mais um tiro no meu peito... Mas faz direito, rapaz. Porque eu sou mais eu, malandro!
Sim, não vão mais me fazer de boba. Eu tive que derrubar muitos muros, sabe? E até hoje sinto o peso do mundo nas minhas costas. Fui colocada de lado tantas vezes, que achei que era normal ser desprezada. Eu busquei consolo, fiz de conta que nada acontecia, saí correndo feito louca pelo meio da rua e nenhum carro me pegou. Levei um susto comigo mesma. Não queria ser invisível, a menos amada, àquela que ninguém queria em sua vida perfeita. Eu paguei por amor, implorei pela única coisa que não tinha em minha vida de ausências. E descobri-me outras, decidi-me várias, voltei a querer migalhas, mas não desisti de ser gente. Transsexual também é gente, sabia? Sim, eu sou gente, caralho! Penso, logo existo, otário. Não quero mais doce, não quero mais bala, não quero mais ir para a vala. Não sou fruto da casa de idiota nenhum. Não pertenço a maldade alheia. Não sou cobaia da infelicidade dos outros. Sou livre. Vou caminhar com minhas próprias pernas tortas... E se vou acertar, não sei, mas esse gosto de derrota, não mais. Sou mais eu, gato!
Acabei de descobrir uma nova mulher dentro dessa mortalha que sempre fui. Fui criada como lixo, obedeci ao lixo, calei mil bocas do lixo, decapitei-me no lixo, decompus, vivi o veneno por todos os lados, fumei meus erros, assei o lixo, morri, morri, morri... Comi o pão que o diabo amassou. Lixo. Perdi. Passei por dias horrorosos, terríveis... Fui estuprada no lixo, menti para sobreviver, gritei, chorei tsunamis, maremotos, mortos. Eu nunca fui tão humilhada em toda a minha vida. Eu quis correr até o fundo do poço. Eu não vi nada no fim do túnel. Não tinha nenhum pote de ouro no fim do arco-íris. Fui expulsa por ratos da casa onde nasci. Não tive malas. Tive roupa suja enrolada em sacos de lixo. Saí pela porta dos fundos. Ninguém riu. Sim... quem me ama, não riu! E eram eles que estavam ali no lixo comigo, querido. Levando minhas coisas nas costas, nos braços, na alma e no coração. Saí menos opaca, menos nua e um pouco mais humana. Pois é... no pior momento da minha vidinha classe média de merda, eu cresci. Não me esquartejam mais, querido. Tudo que eu tenho, sinto e sou, vem de dentro. Eu sou mais eu!
Lembro-me que chegava em casa fritando, louca para tomar a fórmula que mata e seca o rato. Chumbinho na veia, malandro! Era briga, ódio, terrorismo psicológico e falta de respeito. Eu cresci no meio das pessoas erradas, menino. Na minha casa nunca teve respeito. Eu digo isso porque tenho nojo de gente falsa. Eu digo isso porque odeio vaselina. Maionese é o caralho! Eu digo isso porque não aguento mais vomitar o que deveria ter dito. Enjôos à mesa. Carne podre sentada à minha frete... Eu vi o lado sujo da vida na sala de jantar. E não vou mais... vomitar! Não quero isso para a minha vida, rapaz. Não quero mais.
Figurinha repetida não completa albúm?
"Nobody is so queer as folk".
Quero que meus inimigos fiquem de olho na TV. Que passem todos os dias nas bancas de jornais. E vejam quem está na capa de todas as revistas de celebridades. Agradeço a todos que rezarem... Rezem mesmo... Vão precisar! Meus algozes herdaram a maldição dos covardes. Eu, não. Eu avisei, mas eles não quiseram me ouvir... Acharam que uma herança de bosta e um espólio de merda, iria transformá-los naquilo que jamais serão. Nem tinham visto a cor do dinheiro e já se intitulavam futuros ex-pobres de espírito. Ridículos! Eles nunca vão conhecer o coração humano. Muito menos, o meu. Saber que eles vão morrer um dia é o que faz a minha existência ter algum sentido, honey. Gente se faz com amor, gatinho. Gente se faz com arte. Gente se faz com verdade de sentimentos. Humildade de gestos. Compaixão de ossos. Apetite no coração... Gente se faz, não se inventa. Os maus vão ter que nascer mil vezes para aprenderem a ser gente. As pessoas legais sempre sofrem... Quem disse que o mundo é justo, querido? Agora vejo que não há luz no fim do túnel, rapaz. Mas no fim do arco-íris tem um outro arco-íris e uma estrada de tijolos amarelos. Tem uma porta falsa no fundo do poço. Flash! Talvez eu tenha a prova de que o milagre existe, afinal. A minha matéria viva é tão fina que às vezes ouço o estalar da alma em meus ossos. Já virei o disco. Já mudei de canal. Estou ouvindo outro CD. Troquei o DVD. Estou navegando em novo site. Estou em outra, maluco! Se liga, leke! Me criticar é fácil... Quero ver ser eu! Portanto, no compasso das horas, digo: Caguei baldes para os que falaram mal de mim... Baldes!
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Pô Barquinn, demais esse conto! Cara, quer ser meu amigo? Rs! Esse seu conto demonstra que deve ser ótimo conviver com você. Quero ser seu amigo messssssssssmo, brow! Escreve pra mim. Abs!
ResponderExcluirExtraordinário! Magnífico! Maravilhoso! Faltam-me adjetivos para dizer o quanto esse conto é bom. Vc é um escritor primoroso, cara. Bom demais! Abs!
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