C'EST TOUT LA MÊME CHOSE


Indo direto ao pulcro, a chuva veio e somada à causas naturais e ao descaso dos governos, arrastou casas, carros, animais e vidas. Muitas vidas. Pobres e ricos: entre mortos e feridos, ceifaram-se todos. Ou quase todos. Assim caminha a humanidade Pois, não. Esta crônica é dedicada às vítimas das chuvas em Teresópolis, Nova Friburgo e Petrópolis; em 2011, assim como, àqueles que passaram por catástrofes naturais ou provocadas pelo homem. E a todos nós, que perdemos, filosoficamente, de tempos em tempos,  nossos entes queridos.


"Sonhos não morrem, apenas adormecem na alma da gente." 
(Chico Xavier).



Quando se perde um ente querido, ou melhor dito, quando nos separamos deste temporariamente, a gente fica em suspenso — com o corpo e  a alma extremamente devastados. É uma dor que a nenhum adjetivo plausível se consegue chegar. A vida é assim… A gente cresce sabendo que tem que aprender a perder. Saber perder é o maior esforço que a alguém é dado suportar. Perder trata-se de uma reconstrução pessoal. Ficar vivo depois do desterro é matéria dura de se alcançar. A única forma de sobreviver com esperança é através da fé. A fé nos mostra diariamente que há vida após a morte. Mostra-nos que quem morre; de fato não morre. Mas é difícil… Difícil porque amamos. Difícil porque sentimos falta. Difícil porque uma parte de nós foi  embora. E não há nada que nos traga esse pedaço de volta — se não for pelo caminho da fé. A gente perde um braço — e continua vivo. A gente perde uma perna — e cria novas formas de andar. A gente descobre uma doença incurável, e se trata com a esperança de algum dia, encontrar a cura. Entretanto, não há dor maior que a dor da perda de um ente querido. Não há palavra que defina essa dor com a exatidão da própria dor. Até porque o vocábulo dor é pequeno demais para sentir dor. Mas sente. Pois bem "Enterrar o ser amado é dose para leão"  — diria o cidadão comum. E o filósofo. E o pensador. Enfim a dor é a mesma em qualquer direção. Os Doutores da Igreja, que sabem tudo sobre religião; sofrem. Os ignorantes; também. Àquele que nem se dá conta do que estamos falando, quando alcançado pela dor, dá conta e ainda passa recibo.  Talvez a dor seja aquilo que nos nivela. Talvez seja aquilo que nos torna iguais. Talvez seja aquilo que mais se manifesta em nós, porque está acima e abaixo de nós. A dor é tridimensional. A dor é Blu-ray. Ninguém é imune a dor. Ninguém resiste à perda. Ninguém é bom ou mau o bastante, para enfrentá-la sem  uma gota de lágrima nos olhos.  Porque a dor mumifica, empalidece, necrosa, fatiga. A dor é algo que iremos levar por toda a vida. Mesmo que nos apoiemos na mais forte das forças, ainda assim, ali ela estará. Mas passará, como passam todas as coisas, porque há vida após a morte. E a morte não é senão a passagem ou o bilhete de retorno a um lugar repleto de eternidades infinitas. Onde encontraremos nossos parentes e amigos vivos. Onde perceberemos que depois da morte não há mortos — mas pessoas que se libertaram de seus corpos materiais, para continuarem a sua missão rumo à Casa de Deus. Pessoas que foram e voltarão. Pessoas que como nós,  —  viverão infinitamente, porque foram feitas à imagem e semelhança do Eterno Deus de todos nós, que de tão Eterno que é, permanece Soberanamente Justo e Bom. A fé em Deus nos dá a certeza que dias melhores  virão. E se sucederão, porque como Ele, — somos a Beleza, a Verdade e a Bondade, — que jamais morrerá.  

Após enxugarmos nossas lágrimas e compreendermos que a morte é só uma separação temporária, perceberemos que a vida só voltará aos eixos, através da solidariedade. Solidariedade esta que é a caridade na melhor acepção da palavra. Após a dor aprendemos a praticar o “amar o próximo como a si mesmo”. Após a dor aprendemos que ninguém é melhor do que ninguém, porque Deus não cria privilegiados. Após a dor aprendemos a dar valor ao pão nosso de cada dia, às nossas inúmeras alegrias, ao sol que nasce a nossa volta, enfim, aprendemos a valorizar a vida. Porque alguém que vivesse pensando na morte o tempo todo — apodreceria antes mesmo de morrer. Morte é uma fração de segundos. Vida, não. Vida é para sempre. Vida é um ser eterno, que pelo simples fato de sempre existir, não conhece nem passado nem futuro — porque sabe que a sua existência é o eterno presente. E é assim  que temos que aprender a viver: No tempo presente. O tempo do homem é o presente que Deus lhe deu. Por isso temos que aprender a viver com esperança — antes, durante e depois do desastre. Antes, durante e depois das fatalidades da vida. Antes, durante e depois da vida. E antes, durante e depois da morte. Mas o aprendizado não termina aí… Porque temos que ser solidários com os nossos vivos e com os nossos mortos. Temos  que cuidar de todos aqueles que cuidaram de nós: cuidar dos mortos e dos filhos desses mortos, que sem a boa vontade dos vivos, não há quem lhes possa cuidar. Porque toda vida merece o esforço de quem lute por ela. Nossas vitórias fazem com que nossos mortos permaneçam vivos na Terra e no Céu. Nossos sorrisos os fortalecem mais que as nossas lágrimas. Porque lágrimas, só os enfraquecem. Do ponto de vista deles no Céu — não entendem porque choramos por eles na Terra. Pois de lá podem compreender a extensão da vida em todo seu esplendor. Sabem que se estão vivos, mesmo depois de terem sido considerados mortos, então não há motivo para chorar, mas para raciocinar. O corpo físico, material, biológico, esse envoltório pesado que tanto cultuamos, de fato passa; morre. Mas a alma, aquilo que nos representa na Casa de Deus; esse alguém que somos de  fato, sobrevive a todas as intempéries da vida. Somos infinitos, eu já disse. E filhos de um Deus que é eterno, de fato. Então, aconteça o que nos acontecer, tenhamos esperança! Esperança de uma vida melhor. Esperança da cura de uma doença. Esperança do reencontro com nossos entes queridos… Enfim, esperança em nós mesmos. Porque se estaremos habitando esse corpo depois de amanhã, eu não sei, mas certamente estaremos vivos e junto de nossos entes queridos, amanhã e depois de amanhã, e depois e depois… Porque infinitos filhos do Altíssimo que somos — a vida nos acompanhará para sempre, onde quer que estejamos. Afinal, vida e morte —  C'est tout la même chose.  




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Comentários

  1. Betto, amei essa crônica! Você é um homem abençoado por Deus. Amo você, querido! Beijos!

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  2. Maria Lúcia Ribeiro Vargas14 de janeiro de 2011 às 08:10

    Oi Betto! Não te conheço pessoalmente, mas ao ler o seu texto, tornei-me sua fã. Lendo esse texto, a gente para de chorar, arregaça as mangas e vai à luta. Muito legal ler uma crônica com a alma do autor exposta ferrenhamente. Perdi parentes e amigos nessa catástrofe de Teresópolis. Estou muito triste, mas o seu texto está sendo um refúgio para a minha alma. Muito obrigado por pensar na dor dos outros, Betto. Deus abençoe.

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  3. Muito Bom Betto! Amei esse texto!!! Beijocas, meu amor!

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  4. Raul da Silva Bernardes17 de janeiro de 2011 às 14:18

    Maravilhoso, Betto! Muito bom mesmo!

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  5. Angelo Monteiro de Carvalho17 de janeiro de 2011 às 15:27

    Maneiríssimo Betão! Sucesso, brow!

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  6. Belíssimo, Barquinn! Muito bom mesmo!

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  7. Maravilhoso, Betto! Ao escrever este texto foi inspirado tão dividamente, que dá vontade de ler rezando. Parabéns por nos emocionar tanto. Abs!

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